Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Wellington de Siqueira, de 19 anos, dança a catira, manifestação característica do caipira. "A cultura é boa porque vem de nossos avós e bisavós, vem de muito tempo e não podemos deixar morrer", diz. A cultura popular tem o caráter de preservar tradições e é este o motivo que leva muitos artistas aos palcos. O amigo de Wellington, o jovem Dirceu Gomes, também de 19 anos, endossa: "gosto de estar resgatando culturas passadas. As pessoas falam que eu estou dançando uma dança pré-histórica, mas danço catira com muito prazer, se nós não dançarmos, quem vai dançar? Ela não pode morrer", enfatiza.
Os dois jovens aprendem a arte com o mestre Badia Medeiros. Mestre e aprendizes vieram a Brasília para se apresentarem na abertura da oficina preparatória do Seminário Nacional de Políticas Públicas para as Culturas Populares, que vai eleger propostas prioritárias para o ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Aos 65 anos, Badia conta que aprendeu a dançar com os mais velhos nas fazendas onde trabalhava, em Unaí (MG), ouvindo cantigas populares. O prazer atual é poder passar a catira e os acordes na viola caipira para as novas gerações. "Tento passar para os outros essa semente e quero ver o fruto dela enquanto eu viver e deixar para os jovens. Trabalho sem interesse de ganhar dinheiro para que ela não morra", ressalta o violeiro.
Para o ator Thiago Jorge, do grupo Teatro do Oprimido da Universidade de Brasília (UnB), os encontros são importantes porque todos procuram possibilidades de mudar a situação. "Falta troca de conhecimentos entre os grupos, não há intercâmbio e nem apoio financeiro para viajar ou fazer oficinas", reclama o artista. "Não sei qual seria a melhor forma para mudar essa realidade por isso são importantes essas discussões", ressalta.
Já o repentista Chico de Assis vê na arte popular um importante instrumento de educação. "O poema é universal, quando você fala através da métrica, do verso ou repente fica mais fácil de interpretar e das pessoas entenderem. Os artistas são repórteres do povo", afirma.
As oficinas começaram em março do ano passado. O seminário será de 23 a 26 de fevereiro, no Complexo Cultural da Fundação Nacional da Arte (Funarte), em Brasília. São esperadas mais de mil pessoas. Já foram feitas 630 inscrições.