Seminário no Sul debate uma outra articulação internacional para a agricultura

21/01/2005 - 11h53

Rosamélia de Abreu
Repórter da Rádio Nacional

Brasília - Representantes da agricultura familiar de 45 países estão reunidos em Chapecó, em Santa Catarina, no Seminário sobre Políticas Agrícolas e Comerciais Solidárias - Preços, Políticas de Apoio e Gestão da Oferta para discutir a agricultura numa perspectiva de articulação internacional.

O encontro, promovido pela Federação de Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf/Sul) dos três Estados do Sul (SC, PR, RS), começou na quarta-feira (19), e termina na segunda-feira (24).

O chefe da Assessoria Internacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Laldemir Muller, disse que existe uma reorientação da política internacional no governo Lula. "Essa política internacional tem dois pilares: a relação do Brasil com os países da África e da Ásia, como a China e a Índia".

Ele destaca que o Brasil é protagonista nas negociações internacionais do comércio, citando como exemplo a criação, em 2003, do G-20, grupo de países em desenvolvimento com interesse especial na agricultura, na V Conferência da Organização Mundial do Comércio, em Cancún, no México. Essas iniciativas trazem mudanças para a política internacional, explica Müller.

O representante do ministério disse ainda no evento que o grande desafio é contemplar os interesses da agricultura familiar para garantir o seu desenvolvimento. "Temos que conseguir manter nas negociações internacionais o apoio interno dado à agricultura familiar brasileira, e evitar restrições a programas como o Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar)".

Müller lembrou que é preciso estabelecer uma nova idéia de comércio internacional solidário, sem prejuízos de terceiros. "Nessa nova agenda de trabalho é preciso buscar desenvolvimento rural por meio de uma política internacional, fazer alianças solidárias, e colocar a agricultura familiar brasileira no fluxo de comércio internacional, mas sem causar prejuízos ou interferência na agricultura de outros países. A intenção do governo, é buscar um comércio internacional mais justo", conclui.

Para Altemir Tortelli, coordenador geral da Fetraf/Sul, o seminário mostra que é preciso estabelecer uma outra forma de relacionamento comercial e definir um outro papel para a agricultura familiar mundial. Segundo ele, "os agricultores familiares consideram que o atual modelo agrícola internacional só atende aos interesses dos grandes grupos econômicos, agroindustriais e corporações internacionais, que acabam influenciando as políticas externas dos países".

Tortelli disse ainda que no governo Lula, a agricultura familiar está avançando. O que se fez nesses últimos dois anos, transformou o Brasil para a América Latina e para os outros Continentes. O que é feito aqui hoje, como o acesso a financiamento, assistência técnica e extensão rural, pode ser levado para outros países.

O dirigente lembra também que é preciso conscientizar a todos sobre a importância da preservação e proteção ao meio ambiente. "Os investimentos no desenvolvimento e implantação de tecnologias podem eliminar a aplicação de produtos químicos nas lavouras".

O coordenador do evento disse que no final do encontro será elaborado um documento - a Carta ou Manifesto de Chapecó - que trará sugestões para unificar as ações visando uma intervenção mundial mais articulada para melhorar as futuras políticas internacionais que possam beneficiar a agricultura familiar nas negociações internacionais e nacionais.