Spensy Pimentel
Enviado especial a Nigéria e Camarões
Yaoundé (Camarões) – A Petrobrás espera que o Itamaraty auxilie a empresa a conseguir canais de negociação direta sobre o petróleo que o Brasil importa da Nigéria com o governo do país. Isso evitaria que os preços do produto ficassem sujeitos a maiores oscilações no mercado, entre outras vantagens.
"Eles teriam garantia de entrega, e nós, garantia de preço", explica Iran Garcia da Costa, um dos representantes da Petrobrás presentes aos encontros que aconteceram nesta semana entre a comitiva brasileira e representantes do governo nigeriano. Junto com Costa, esteve Samir Awad, que é representante da empresa baseado na Nigéria já há alguns anos.
Costa explica sua afirmação. Nos cálculos dele, a Nigéria produz por dia mais de 2 milhões de barris de petróleo, e tem um consumo interno de 500 mil a 600 mil de barris refinados. Porém, o país conta com capacidade instalada de refino de apenas 450 mil barris/dia, o que leva a Nigéria a importar derivados de petróleo.
Uma eventual negociação direta da Petrobrás com o governo nigeriano permitiria que fossem negociados contratos a longo prazo para que o Brasil participasse mais no fornecimento desses derivados, inclusive operando com "trade", ou seja, troca de produtos, como explica Costa.
Representante da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) na comitiva em viagem à África, o diretor executivo da empresa Gustavo Chianca explica que o governo brasileiro já realizou algo semelhante em relação à soja junto ao governo chinês. Para que o comércio do produto não ficasse sujeito às oscilações internacionais, negociou-se a possibilidade de acordos diretos com cooperativas brasileiras, o que, entre outros fatores, elevou a China à condição de um dos maiores compradores de soja do Brasil.
A Petrobrás também está tentando incluir a Embrapa em uma eventual negociação. A empresa petrolífera se dispõe a financiar projetos de desenvolvimento rural no país onde for atuar. A partir de 2008, a Petrobrás espera que entrem em produção em território nigeriano três áreas sobre as quais ela conquistou o direito de exploração recentemente.
Já a demanda nigeriana para que o Brasil instale uma refinaria de petróleo no país esbarra na dificuldade de viabilizar o empreendimento junto aos financiadores – da mesma forma que acontece quando o "Risco Brasil" aumenta e os investidores estrangeiros tiram dinheiro do país. No caso nigeriano, entre outros fatores, o país é considerado pela ONG Transparência Internacional um dos dez países mais corruptos do mundo.
O combate à corrupção tem sido uma das prioridades do atual presidente Olusegun Obasanjo. Entre outras medidas tomadas pelo atual governo, a Nigéria possui hoje uma lei de responsabilidade fiscal inspirada em sua homônima brasileira.
A Nigéria é o país mais populoso do continente, sexto maior produtor de petróleo e grande exportador desse recurso natural, inclusive para o Brasil, que só em 2004 teve déficit comercial da ordem de US$1,8 bilhão com o país. O petróleo nigeriano é considerado de alta qualidade pela Petrobrás.