Spensy Pimentel
Enviado Especial à Guiné Bissau
Bissau – O chanceler Celso Amorim colocou recursos brasileiros à disposição dos guineenses para garantir o retorno do país à normalidade democrática. Nos últimos anos, Guiné Bissau vive uma seqüência de episódios políticos violentos. "Somos irmãos mais velhos nessa trilha da independência", explicou o ministro brasileiro. Ele ressaltou que não considera o auxílio político oferecido ao país como uma simples doação. "Cooperação é dar e receber. Estamos retribuindo".
Ao usa o verbo retribuir, Amorim fazia referência ao fato de Portugal ter constituído um centro de comércio de escravos na região, no período colonial. "Esse lugar é especial. Daqui partiram muitos daqueles que foram construir a civilização brasileira", disse. "E quando um membro da família passa mal, todos passam mal".
Entre 1998 e 1999, foi deposto o presidente João Vieira – ele mesmo alçado ao poder originalmente em 1980 por meio de um golpe militar –, no episódio conhecido como Guerra de 7 de Julho, que ainda deixa marcas na capital guineense, como o antigo Palácio Presidencial destruído por tiros e bombardeios bem ao lado de escritórios utilizados pelo atual governo.
Em setembro de 2003, outro presidente foi deposto, Kumba Yalá – eleito em 2000. Nesse caso, o processo terminou com a assinatura de acordos que garantiram a posse de um presidente interino, Henrique Rosa, até hoje no cargo, juntamente com o primeiro-ministro Carlos Gomes Jr.
Em outubro de 2004, um levante militar resultou no assassinato do então comandante das Forças Armadas, o general Veríssimo Correia Seabra. No episódio, as tropas reivindicavam melhores salários e assistência social, como auxílio para moradia.
O ministro Celso Amorim informou ontem durante a visita a Bissau que o Brasil já doou US$ 500 mil para um fundo criado no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa com a finalidade de atender os pedidos dos militares.
O Brasil também ofereceu ajuda ao país para a realização de eleições. Entre os recursos disponibilizados estão o apoio técnico e o sistema brasileiro de urnas eletrônicas. "Com a confiabilidade que o sistema adquiriu, elas permitiram eliminar as dúvidas sobre fraudes eleitorais. Hoje, não há contestação de resultados em cidades onde há nem mesmo 0,5% de diferença entre os candidatos".
O ministro também lembrou o passado político recente do Brasil. Ele deu como exemplo de amadurecimento das instituições no país a transição entre os mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. E lembrou que "há 15, 20 anos, as coisas não eram como hoje".