Brasília, 10/1/2005 (Agência Brasil - ABr) - O deputado Jamil Murad (PC do B/SP), um dos observadores internacionais da delegação brasileira à eleição presidencial palestina, disse que a vitória de Mahmoud Abbas foi o resultado de um processo vitorioso, pela obstinação do povo palestino em participar das decisões políticas. Dezesseis observadores brasileiros – integrantes dos três Poderes e professores – viajaram para acompanhar a eleição. Entre eles, estavam o secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sepúlveda Pertence.
Parte da delegação voltou hoje ao Brasil, depois que Abbas foi formalmente declarado vencedor. Murad, que só retorna amanhã (11), participou hoje de evento em que Abbas falou aos cerca de 800 observadores internacionais, convocados pelas Nações Unidas para garantir a lisura e a própria realização do processo eleitoral. Na ocasião, o novo presidente da Autoridade Nacional Palestina, concedeu também uma entrevista coletiva à imprensa local e internacional.
Murad elogiou a civilidade e a maturidade do povo palestino no processo eleitoral. Ao todo, sete candidatos disputavam o cargo. "O povo demonstrou uma vontade incomum, extraordinária, de eleger o sucessor de Yasser Arafat, mesmo com todas as dificuldades. Até os fiscais dos diferentes candidatos se falavam amigavelmente", observou. A Constituição palestina reza que seja escolhido novo presidente por meio de eleições democráticas, no prazo de 60 dias, em caso de morte do ocupante do cargo.
O deputado disse que até mesmo as delegações internacionais tinham problemas em se deslocar na região. A delegação brasileira visitou quatro cidades – Hammalah, Jerusalém, Hebrom e Belém. "Há barreiras do exército israelense com distância de poucos quilômetros uma da outra. Os soldados param os palestinos e qualquer outro cidadão não-israelense, pedem documentos e esse processo pode demorar minutos ou horas. Um percurso cujo deslocamento levaria meia hora pode levar até cinco horas para se completar", relatou o parlamentar.
O povo palestino, segundo Murad, não conviveu com os candidatos no dia-a-dia, já que eles não puderam fazer campanha. No entanto, o deputado relatou que havia comemoração em vários pontos de Hammalah, onde ficou hospedada a delegação brasileira, depois que Abbas foi declarado vencedor. Murad lamentou o fato de 12 mil presos políticos, detidos em território palestino ou israelense, terem sido proibidos de votar. "Eles reivindicaram, mas como a maioria está em território de Israel, não teve autorização", contou.
Os palestinos que vivem na Jerusalém Oriental também sofreram com as limitações impostas por Israel, segundo contam os integrantes da delegação brasileira. Dos 120 mil aptos a votar, apenas 5 mil exerceram seu direito. Murad conta que os israelenses espalharam os nomes dos eleitores palestinos aleatoriamente em listas pelas agências de correios da cidade. "Eles tinham que percorrer todas para saber onde estava o nome, para que aí sim pudessem votar".
No encontro com os observadores, Abbas, que falou em árabe, agradeceu a presença deles no processo eleitoral e disse que trabalhará para restabelecer o processo de paz com todos os vizinhos. "Ele disse que quer boas relações com os países vizinhos e que espera que os vizinhos também tenham a mesma intenção", relatou o diretor do Instituto de Biologia da Unicamp, professor Mohamed Habib, também integrante da delegação brasileira. Habib se disse preocupado com o futuro da palestina diante do resultado obtido nas últimas eleições, a segunda depois de 10 anos. "Temo pelo povo, porque acredito que a eleição de Abbas foi um recado ao mundo de que o povo palestino está fazendo sua parte para estabelecer a paz, já que o novo presidente tem a simpatia de vários países, incluindo a dos Estados Unidos e de Israel. Se a paz, que é vontade da maioria do povo, não se estabelecer num curto prazo, creio que vão responsabilizar Abbas pela derrota", disse o professor.
Habib conversou com jovens israelenses ao visitar Jerusalém e deles ouviu o clamor por paz também. "Eles também querem a paz urgentemente. Alguns me disseram que têm amigos palestinos e que não agüentam mais conviver com o clima de guerra", relatou o professor. Habib disse ainda que sentiu um clima de fraternidade inclusive entre os observadores dos mais variados pontos do mundo, do Japão à União Européia.