Laudo laboratorial nega em definitivo foco de aftosa em Mato Grosso do Sul

06/01/2005 - 17h11

Laudo laboratorial recebido pelo Ministério da Agricultura nega a existência de um foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, como fora noticiado nos últimos dias. A situação foi esclarecida pelo diretor do Departamento de Defesas Animal, Jorge Caetano, em entrevista à Rádio Nacional.

Nacional - Os exames comprovaram ser negativo a existência de um foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul?

Caetamo - Realmente os exames resultaram todos negativos. Eles foram realizados no nosso laboratório de Belém e já não havia evidência clínica ou crimiológica da doença. Esses exames vêm, assim, confirmar esse quadro.

Nacional - Por que foi dito antes do resultado do exame que poderia haver problema na região?

Caetano - Na verdade trata-se de uma região de fronteira, em que se tomam cuidados adicionais por conta disso. Não havia, quando da visita à propriedade, sinais que indicassem a ocorrência da doença. Mas, com se tratava de uma propriedade de fronteira e com algumas evidencias com investigação de animais ainda não documentado, então se optou pelos testes que tiveram resultado negativo.

Nacional - Consta que o gado que teria recebido vacina contra a febre aftosa acabou confundindo quem, a olho nu, teria verificado ou teria achado que estaria com problema?

Caetano - Na verdade, exames corológicos. Nós temos alguns tipos de exames que visam diferenciar anticorpos de inflamação, de anticorpos de infecção, mas sempre em períodos próximos de vacinação há uma possibilidade de confundir e a vacina nessa região é praticada em novembro, portanto muito pouco tempo atrás e essa confusão foi possível.

Nacional - Essa área é considerada de risco, que exige vigilância constante já que é área de fronteira com o Paraguai?

Caetano - Toda área de fronteira é de vigilância especial mais constante, um trabalho mais efetivo a essa área não é diferente. Temos uma extensa fronteira com vários países e o Paraguai é um deles. Dai nossa preocupação adicional.

Nacional - De que forma esta questão é resolvida já que a fronteira é extensa? Há gente suficiente para realizar uma fiscalização ou existe um trabalho de consciência das pessoas que lidam com o gado de estarem sempre atentas a essa questão?

Caetano - Observando um aspecto importantíssimo, na verdade todo programa que o governo desenvolve na erradicação de doenças não pode prescindir da colaboração e da participação intensa dos setores produtivos. Os produtores têm um papel muito importante nesse trabalho que o ministério desenvolve, tanto praticando a vacinação quanto colaborando na conscientização no sentido da erradicação da doença no território nacional. Não conseguimos desenvolver programas sem esse apoio efetivo.

Nacional - De que forma o senhor analisa a saúde do nosso rebanho?

Caetano - O rebanho bovino nacional em relação à febre aftosa tem uma situação muito boa. A zona livre de aftosa hoje no país abrange 85% da população bovina. Ela abrange toda a região centro-oeste, sul, sudeste e uma parte da região nordeste também. Temos um efetivo muito importante incluído nessas zonas.

Nacional - O senhor não citou a região norte. Lá existe problema?

Caetano - É o avanço do programa. Ele se dará em relação à região norte e nordeste, que são regiões que precisam ser trabalhadas mais intensamente e representam o último ponto de avanço do programa.

Nacional - A febre aftosa compromete a saúde humana?

Caetano - Não. A aftose é uma doença que trás prejuízos econômicos, embora nem provoque alta mortalidade na população bovina. Também não é uma zoonose, não afeta humanos, mas ela produz prejuízos econômicos importantes e mercados compradores importantes em todo mundo já se livraram dela. Por isso que é uma doença que provoca tanta sensibilidade, principalmente no que diz respeito ao comercio internacional de produtos de origem animal.

Nacional - Nós ainda lutamos com a vacina para combater a doença, mas pelo menos não temos a princípio o mal da vaca louca, que realmente compromete a saúde humana, não é mesmo?

Caetano - É. Há evidência de que essa doença seria uma zoonose importante. A vaca louca sim, tem um apelo em termos de saúde pública. No Brasil a maior parte dos animais é engordada exclusivamente a pasto, uma condição especial para a não ocorrência dessa doença. Outros países que têm produções mais extensivas, com animais alimentados com ração, têm a difusão da doença principalmente por meio de farinhas de origem animal empregadas na ração de bovinos. Nosso risco é muito menor. De qualquer modo, promovemos um serviço de vigilância muito importante buscando reduzir ainda mais o risco, que já é pequeno por conta da nossa forma de produção.

Nacional - O calendário de vacinação do nosso rebanho é seguido à risca pelos produtores rurais?

Caetano - O calendário de vacinação para febre aftosa é estabelecido de forma nacional, mas obedecendo a calendários estaduais próprios. Em algumas oportunidades quando há algum problema excepcional, há necessidade de que se prorrogue o período de vacinação, mas em geral o calendário tem sido mantido e tem sido observado pelos produtores. Temos um alto índice de vacinação no território nacional. É sempre importante ressaltar que buscamos uma unidade populacional. Às vezes, algum produtor acha pouco importante vacinar seu rebanho, ele tem que se conscientizar que faz parte de um todo, que estamos buscando uma imunidade que diz respeito à população como um todo. Cada falha vacinal, digamos assim, aumenta o risco em relação à doença. É muito importante que cada um tenha consciência da sua obrigação e que vacinar é um trabalho de todos e é imprescindível para que nós possamos erradicar a febre aftosa em todo país.

Nacional - E o custo dessa vacinação é alto? Compromete as finanças de um produtor?

Caetano - A vacina custa em média 30 centavos de dólar, isso varia um pouquinho de estado para estado em função do transporte desse material. O custo não é tão elevado e a vacina brasileira tem uma qualidade muito boa. Ela é testada partida a partida pelo Ministério da Agricultura e distribuída por meio de uma central de selagem que acompanha toda a movimentação do produto desde sua produção na indústria até a distribuição.

Nacional - Em termos de tecnologia, comparando com países desenvolvidos, o Brasil está bem servido nesse ramo no sentido da fiscalização e da medição da saúde do rebanho?

Caetano - Temos, em termos de diagnósticos, o que há de mais moderno, em termos de vacinação também, utilizamos instrumentos dos mais modernos existentes. O Brasil tem o maior rebanho vacinado do mundo. Temos realmente uma tecnologia muito importante, mas não podemos prescindir do trabalho humano. A vigilância da doença é feita pelo serviço veterinário oficial nos estados e pelo produtor. Ele é fundamental em relação à vigilância da doença, é ele que aponta para o governo estadual a suspeita que deve ser investigada, aponta problemas existentes de distribuição eventualmente de algum produto que seja necessário, tudo isso é necessário para que ele tenha condição de estar apontando essas informações e tenhamos condição de atendê-lo oportunamente. Temos notado que nos últimos tempos alguns serviços têm tido mais facilidades que outros, situações de um estado para outro varia um pouquinho, mas de maneira geral tem se buscado atender com presteza as perguntas que são encaminhadas ao serviço veterinário de cada estado.

Nacional - Ou seja, o importante é a conscientização do produtor no sentido de detectar qualquer problema e avisar imediatamente as autoridades, caso contrário, se se manter calado, achando que a fiscalização poderá prejudicá-lo, acabará agravando o problema?.

Caetano - É exatamente isso que se busca. Dai a necessidade de que o produtor esteja engajado com os serviços do governo nessa batalha contra a febre aftosa.

Nacional - Existe uma linha direta para o produtor rural e o serviço de fiscalização animal do Ministério da Agricultura?

Caetano - Cada estado tem o seu telefone de contato para que o produtor possa ter acesso ao serviço de sanidade animal.

Nacional - Existe hoje algum ponto de preocupação em relação a saúde do nosso rebanho?

Caetano - Não. O importante é mantermos a vigilância para que tenhamos a oportunidade de receber informações que permitam investigações oportunas de qualquer episódio relacionado à sanidade animal em todo o território.