São Paulo, 6/1/2005 (Agência Brasil - ABr) - A decisão sobre a compra dos aviões-caça para a Força Aérea Brasileira (FAB), para substituir os Mirage F-5, não deveria ser retardada, na opinião do pesquisador Geraldo Cavagnari, fundador e membro do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.
"É uma temeridade deixar aberto o espaço aéreo nacional. É uma questão que já deveria ter sido resolvida há muito mais tempo e estão atrasando mais um ano. Teríamos que resolver o problema o mais breve possível, porque não podemos manter o espaço aéreo com a precariedade de meios para defendê-lo ou para vigiá-lo", observou.
O ministro da Defesa, José Alencar, disse hoje que a questão deverá ser resolvida até o final do ano, quando se encerrará o ciclo de vida dos atuais Mirage utilizados para patrulhar o espaço aéreo. A necessidade de modernizar a FAB foi identificada pela Aeronáutica em 1995. No governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi aberta licitação para a compra de 12 aviões supersônicos, interrompida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo dia de seu governo, e retomada em outubro de 2003.
Em dezembro do ano passado, venceu o prazo das propostas apresentadas por russos, norte-americanos, suecos, ingleses e os franceses, que entraram na concorrência como parceiros da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). O presidente Lula tem a opção de adquirir as aeronaves sem licitação, uma vez que se trata de questão de interesse nacional, mas o ministro da Defesa negou esta possibilidade.
Segundo Cavagnari, a inexistência de ameaça não justifica a negligência com a defesa do espaço aéreo nacional, mas trata-se de uma questão estratégica para o país. "No campo da defesa não se trabalha com essa hipótese de ameaça. Trabalha-se sempre com a pior hipótese: saber que você pode ser surpreendido com uma ação indesejada", observou.
E acrescentou: "Atualmente, o único espaço aéreo que tem condições de interceptar aeronaves estranhas que se introduzam é a Amazônia, mas são aeronaves para transporte de material de narcotráfico, contrabando e outros. O Supertucano, o avião de interceptação do espaço aéreo amazônico, é fabricado por nós. Então, as nossas condições de defesa neste espaço aéreo estão prontas. O que falta é a proteção do espaço aéreo mais importante do território nacional, nas áreas onde estão a base econômica e o centro político do país."
Cavagnari lembrou ainda a demora entre a concretização do negócio e a entrega dos aviões: "Nesse espaço de tempo, o país fica com uma defesa aérea precária." E disse não acreditar que questões técnicas estejam atrapalhando a aquisição das aeronaves. "Deve haver uma pressão política muito violenta sobre o governo brasileiro, principalmente dos Estados Unidos, que compraram aeronaves nossas, da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica)", analisou.
Outras formas de pressão, segundo o pesquisador, podem estar ligadas ao fato de o Brasil ter sido prejudicado nas cotas de importação de carne bovina pela Rússia. "Fomos preteridos e isso é uma maneira de pressionar. De um certo modo, pode ser que esteja sendo dado um recado nesse sentido: se vocês querem que eu compre carne bovina, têm que comprar nossos aviões", observou.