Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os jovens da Chapada Diamantina dão um toque especial aos restaurantes e hotéis da região. São deles os cardápios usados nas mesas, assim como os sacos de roupa e almofadas dos quartos. Os objetos saem de duas oficinas montadas a partir de cooperativas criada na Associação Grão de Luz, em Lençóis. Em uma casa com diversos espaços e pátios, cerca de 77 adolescentes aprendem a costurar, trabalhar com papel reciclado e pintar quadros.
"Tudo com foco no artesanato popular", explica uma das criadoras do projeto, a educadora Lílian Pacheco. No ano passado, a Associação ganhou um prêmio com o Projeto Grãos de Luz e Griô. Na versão baiana, o personagem da cultura africana "Velho Griô" vista crianças e adolescentes em escolas e praças. O objetivo é contar e ouvir histórias que resgatem as raízes culturais dos povos da Chapada Diamantina.
Cerca de mil jovens participam desse projeto, que também conta com a participação de adultos e idosos da comunidade. O administrador e filósofo Márcio Cayres, 35 anos, é quem dá vida ao Velho Griô. Nativo da Chapada, ele morou em Salvador para estudar e agora trabalha no resgate da cultura do local onde nasceu.
"Aqui sou muito mais um aprendiz", garante Cayres. "Os mestres cantadores estão na zona rural. Eles são uma grande inspiração para mim." Além de preservar a cultura e trazer um diferencial para o comércio da cidade, a Associação Grãos de Luz também traz renda própria para os jovens de Lençóis.
Vanderléia Queiroz, 22 anos, ganha uma bolsa de R$ 250 por mês para transformar papel em porta-retrato e cardápio. Ela e os outros 12 membros da cooperativa também recebem pela produção vendida. "No ano passado, a nossa meta foi de R$ 2 mil em produtos vendidos por mês. Esse ano, aumentamos para R$ 2,5 mil", comemora Vanderléia, grávida de oito meses. Assim como a maior parte dos jovens da região, a artesã reclama de falta de atrações noturnas. "Mesmo assim, não tenho a menor vontade de sair daqui. De vez em quando, tomo cada banho de rio."
O cardápio que sai da mão de Vanderléia vai parar nas mãos dos clientes de Dan Schawn. Nascido em Salvador, ele acaba de se formar em biotecnologia na Universidade de Haifa, em Israel. O mestrado agora é em biotecnologia da cachaça. Em Lençóis, Schawn administra uma cachaçaria com produtos fabricados em alambique da fazenda da família. São 42 tipos de cachaça.
Todas elas com frutos e sementes da região. Entre elas o junco, a pindaíba, a carambola e o coquinho. "Nosso próximo desafio é abrir um ponto em Salvador que servirá como um portal para a Chapada", conta o rapaz. "Quero chamar as pessoas para esse lugar maravilhoso."