Brasília - Há pelo menos 102 brasileiros não localizados desde o final da semana passada quando 11 cidades asiáticas foram atingidas por um maremoto, segundo levantamento feito pelo Ministério das Relações Exteriores divulgado hoje. Até o final da tarde de ontem (30), 140 pessoas que constavam das listas de desaparecidos foram localizadas pelo Itamaraty. Outras quatro que não estavam relacionadas foram localizadas vivas. As informações foram dadas à Rádio Nacional pelo Embaixador da Ásia e Oceania no Brasil, Edmundo Fujita
Nacional - De que forma seria possível acelerar o envio de suprimentos às vítimas uma vez que muitas pessoas estão sem alimento há cinco dias?
Fujita - No momento ocorre um movimento global de solidariedade muito grande. As ajudas estão sendo enviadas com a rapidez possível. O problema está na questão de organização no terreno. As Nações Unidas e as Organizações Internacionais de Solidariedade ainda não têm condições de processar isso imediatamente. A medicação e os alimentos chegam, mas o terreno está muito confuso, as áreas estão destruídas, estão sem infra-estrutura e isto ocasiona uma certa demora. Mas a ajuda esta chegando, sim. Do Brasil já partiu um avião ontem. Sairá outro na próxima semana e um terceiro deve seguir ainda em janeiro. O envio de ajuda está sendo bem rápido e o que realmente ocorre é um problema de organização no terreno.
Nacional - Os governos dos países atingidos buscam estratégias para melhorar o acesso para a ajuda chegar as áreas isoladas?
Fujita - Os governos atingidos estão fazendo todo o possível e os governos internacionais também. A situação é muito difícil, pois foi uma catástrofe sem precedentes. A questão de comunicação está difícil. Há pouco você se referiu aos brasileiros desaparecidos que nem estavam nas listas e apareceram de repente. Isso é um exemplo da falta de acesso à comunicação, quer dizer, não se conseguem chegar a um telefone, a um computador ou a um rádio onde as vitimas possam avisar que sobreviveram e estão bem. Então, temos que entender que neste processo inicial é muito difícil tentar organizar uma coisa eficiente em um curto prazo. Mas, pouco a pouco, isto está se arranjando.
Nacional - Como tem sido o trabalho das embaixadas de todos os países atingidos na Ásia? Como está a busca de cooperação aqui no Brasil?
Nacional - A população local tem sido extremamente importante no trabalho de desinfecção das áreas, onde alguns corpos permanecem ainda sem sepultamento ou sem incineração, enfim, a população local tem dado demonstrações de bastante solidariedade, não é mesmo?
Fujita - É uma demonstração de que nas grandes catástrofes a humanidade é uma só. A solidariedade é um sentimento que distingue o ser humano de outros seres vivos e acho que nesse momento o mundo inteiro está mostrando, e o Brasil entre eles, uma disposição, uma simpatia de procurar ajudar povos tão diferentes da gente. Isso mostra que a preocupação social do governo brasileiro não é apenas a ajuda solidária social dentro do país mas também em escala mundial.
Nacional - O senhor conseguiria mencionar qual é o sentimento desses povos? Ainda ontem pela manhã, um novo alerta na Índia colocou as populações correndo pelas ruas temendo uma outra tragédia. Qual o sentimento que predomina entre essas pessoas?
Nacional - A imprensa noticia hoje que no aeroporto de Bangkok, na capital tailandesa, as autoridades não tem tido o cuidado de alertar aos turistas que ainda chegam, quanto aos efeitos do maremoto, principalmente quanto a possibilidade de epidemias, ou seja, os turistas chegam sem qualquer aviso, sem qualquer alerta. Como o senhor classifica esse comportamento?
Fujita - Sobre isto não estou a par. Vi essa notícia mas no caso de Bangkok, especificamente, o que posso avaliar é que a catástrofe ocorreu no lado sudoeste no país, o lado mais voltado para o oceano índico e Bangkok fica no lado leste do país, ficou bem distante das áreas atingidas. Então, quem vai a Bancoc não sentirá nenhum efeito da catástrofe, vai achar que a cidade está normal como sempre. Na área atingida, a área do sudoeste, há uma devastação muito grande e acho que realmente turistas que se dirigirem a essa área já devem ter sido avisados pelos seus próprios governos que não é o caso de ir para lá. No caso do resto do país, assim como nos outros países atingidos, não foi o país inteiro que sofreu, exceto aquelas ilhas que são menores e que foram inundadas. Assim, acho que o grau de alarme e de precaução é bastante diferenciado.
Nacional - Qual é a situação dos serviços básicos prestados a estas populações? Falávamos das interrupções nas comunicações, nas telefonias, até na rede de computadores, enfim, quais são os serviços básicos totalmente comprometidos até o momento?
Fujita - Não temos avaliação precisa, porque estamos bastante distantes da área e nossos embaixadores não conseguem percorrer toda a região, mas a infra-estrutura está bastante comprometida, como as comunicações e, principalmente, o abastecimento de água. Isso é uma coisa dramática, porque numa fase pós-catástrofe começa as fases epidêmicas. E uma das coisas que o Brasil estará mandando é a água, é uma coisa que as pessoas podem achar estranho, mas a água é uma das coisas mais necessárias nesse momento porque toda a rede de abastecimento de água foi comprometida com a inundação, com os detritos e com a carência de água começam a surgir epidemias como cólera. Portanto, se pede para os países mandarem água, mandarem pastilhas de limpeza de água, coisas que o Brasil enviou.
Nacional - Além da água e dos antibióticos, que outro tipo de ajuda ainda é esperada?
Fujita - Estamos mandando medicamentos e alimentos. Estamos enviando o que temos à disposição num curto prazo no estoque do governo que pode ser mandado da forma mais rápido possível.
Nacional - Além do Itamaraty há um outro telefone para mais informações?
Fujita - Além do Itamaraty, quem também coordena este esforço no âmbito do governo como um todo, em âmbito interministerial, é o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Fui informado ontem no final do dia, que o Banco do Brasil abriu uma conta corrente para doações em dinheiro para essas cidades atingidas. Porque doações de roupas e coisas assim, temos recebido bastante, mas o problema é encontrar formas de enviar tudo isso àqueles países, porque tudo isso exige coletas em lugares totalmente diferentes, exige armazenamento, empacotamento, encontrar espaço em avião. É uma operação que vai demorar muito, ao passo que a ajuda financeira pode ser uma forma mais rápida de colaborar.
Nacional - O senhor tem o número da conta?
Fujita - O número é Agência 1607-1, conta 333604-2, o telefone do banco é 61 - 310 5071, de Brasília.