Quase 30% dos munícipios tiveram redução populacional na década de 90

29/12/2004 - 10h09

Brasília - A população de quase 30% dos municípios brasileiros se reduziu entre 1991 e 2000, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Por outro lado houve crescimento populacional em 39,8% das cidades. Entre os municípios onde houve redução de pessoas se destacam Ilhéus (BA), Nilópolis (RJ), São Caetano do Suil (SP) e Teófilo Otoni (MG). O estudo do IBGE foi comentado pela pesquisadora da entidade, Nilza Pereira, em entrevista à Rádio Nacional

Nacional - Quase 30% dos 5.507 municípios tiveram redução populacional entre 1991 e 2000. Por outro lado 39,8% cidades apresentaram crescimento. O que estes dados revelam?

Nilza Pereira - Em relação aos municípios que perderam a população, eles poderiam estar revelando insuficiências estruturais e com isso expulsando a população. Mas, são municípios bem heterogêneos, cerca de 99% têm até 50 mil habitantes. Entretanto, existem cidades que apresentam outras justificativas, porque esses municípios com até 50 mil habitantes têm indicadores piores, como uma taxa de analfabetismo mais alta. Quanto àqueles que mais cresceram, estariam demandando ações mais excessivas para o bem estar da população, pois são pólos atrativos e com grandes populações.

Nacional - Foram pesquisados todos os municípios do país?

Nilza Pereira - A pesquisa foi feita com base no Censo Demográfico de 2000. Então, na época, tínhamos 5.507 municípios e o estudo foi feito com base na taxa de crescimento do período de 1991-2000.

Nacional - Quais as ferramentas que os técnicos usam para aferir os dados?

Nilza Pereira - O IBGE tem uma rede nacional e a pesquisa é feita com o controle imediato dos técnicos do Rio de Janeiro. Ficamos de forma interativa acompanhando toda a coleta das informações em qualquer Censo. No Censo de 2000, fizemos um sistema muito mais avançado que possibilitou um acompanhamento e uma cobertura bem mais efetiva do censo.
Esses resultados são fundados no Censo 2000, portanto, só serão atualizados no próximo censo que é o de 2010. Vamos aguardar.

Nacional - A redução populacional tem um pouco a ver com a criminalidade, principalmente nas grandes capitais e nos grandes centros urbanos? A violência também pode reduzir em parte essas populações?

Nilza Pereira - Com certeza. São vários os fatores. A população sempre busca o seu bem estar, seja na área econômica, procurando trabalho, seja na área de saúde, na área educacional e, então, a violência conseqüentemente seria um dos fatores.

Nacional - Além do fator violência, há também o fator da migração de populações de estados e de cidades?

Nilza Pereira - Exatamente.

Nacional - E qual a razão para essa migração?

Nilza Pereira - A migração é um dos fatores e está relacionado exatamente com a questão do trabalho, do atendimento médico. Ás vezes, a pessoa necessita de um atendimento e nem sempre o município em que mora tem uma rede de saúde adequada e específica. Como nas pequenas cidades a pessoa muitas vezes não encontra um atendimento específico, acaba se deslocando para outras maiores. Com isso sobrecarrega toda a rede da cidade.

Nacional - O agronegócio também é motivo de migração entre populações rurais?

Nilza Pereira - Quando mapeamos aqueles municípios que cresciam acima de 3% o que visualizamos foi exatamente um arco de desmatamento que vem sendo muito pesquisado pelos cientistas.

Nacional - Também pode ocorrer de populações mudarem simplesmente de cidade em busca de uma boa administração, onde possam encontrar programas de assistência social, de transferência de renda. Isso foi apurado pelo IBGE?

Nilza Pereira - Isso a pesquisa não tem como medir.
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Nacional - Diante desses casos, o IBGE demonstra alguma preocupação em relação a essa mobilidade populacional?

Nilza Pereira - Esse é um trabalho que sempre é feito, é um retrospecto de censos, na medida que terminamos o último Censo. Então, colocamos esses dados para que a sociedade venha discutir no sentido de retratarem nosso país e no sentido de sempre procurar a melhorar a situação.

Nacional - E em relação aos dados das populações que encolheram, também há uma relação direta com o surgimento de municípios durante esse período?

Nilza Pereira - Sim, porque um dos estados que criou municípios no período entre 1991 e 2000, foi o Rio Grande do Sul. Lá detectamos muitas cidades com perda de população, então isso também teria uma relação.

Nacional - E à medida que essas populações se reduziram em 30% nos municípios houve uma análise do desenvolvimento, do que isso acarretou ou comprometeu o desenvolvimento dessas regiões, especificamente no Rio Grande do Sul?

Nilza Pereira - Analisamos não o estado específico, mas o conjunto de municípios. O conjunto de cada estado tem municípios muito heterogêneos. Essa pesquisa possibilita fazer uma série de outras análises, assim vamos continuar, porque até o Censo de 2010, a nossa exploração será o Censo passado.

Nacional - E na região Centro Oeste, qual é a situação?

Nilza Pereira - O Centro Oeste também tem municípios que constam em cada extrato. O entorno de Brasília está enquadrado naqueles municípios que crescem acima de 3% e tem também todo o norte do Mato Grosso.

Nacional - Das capitais, quais apresentaram realmente ritmo de crescimento superior a 3%?

Nilza Pereira - Temos as capitais da região Norte, em número de cinco e mais Florianópolis, que é a única capital do Sul do país.

Nacional - E o IBGE apontou no seu estudo alguma razão específica para esse crescimento acentuado na região Norte?

Nilza Pereira - A região Norte sempre deteve altas taxas de crescimentos, exatamente pelo fluxo migratório.. É a região que tem a maior taxa de crescimento ao longo dos Censos.

Nacional - Essa pesquisa também não avaliou a permanência de estrangeiros no país?

Nilza Pereira - Não. O censo tem um quesito em que pergunta o lugar de nascimento, e conseqüentemente, se tem os estrangeiros residentes no país e naturalizados. Não embutimos essa informação nesse nosso estudo.