Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O coordenador de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Haroldo Silva, disse à Agência Brasil que os empresários da cadeia têxtil são cautelosos com as previsões para a geração de emprego em 2005. Dos 82 mil novos empregos formais [com carteira assinada] que prevêem totalizar em 2004, eles diminuem para 50 mil a estimativa para o próximo ano.
O economista destacou alguns fatores que ameaçam a geração de empregos pelo setor, como a carga tributária, os juros e a concorrência dos produtos têxteis provenientes da Ásia.
Agência Brasil: Quais são as perspectivas para a criação de empregos em 2005 na indústria têxtil?
Haroldo Silva: Fazendo uma projeção modesta, bem focada, temos uma expectativa de geração de 50 mil postos de trabalho formais [com carteira assinada] na cadeia têxtil para o próximo ano. Vale dizer que, neste ano [2004], nossa expectativa é de 82 mil empregos formais, já que já temos 76,5 mil contratados [este dado se refere ao resultado do Caged do mês de outubro. Em novembro, já havia sido atingida a marca dos 80,8 mil empregos].
ABr: Existe alguma variável que possa ameaçar esta estimativa?
Haroldo Silva: Sim, existem algumas preocupações no setor. A principal delas é que nós continuamos com aumento de carga tributária. A despeito de o governo federal ter mencionado que não haveria, neste ano, aumento de carga tributária, isso ficou evidente e fica evidente nos números da Receita [Federal]. A cadeia têxtil foi uma das oneradas, seja pela Cofins [Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social] – importação de produtos do setor – ou porque dentro do próprio mercado interno temos uma carga tributária bastante elevada. Além disso, há uma política de juros que julgamos austera demais, desnecessariamente austera.
Na verdade, com uma taxa de juros inferior à que estamos praticando agora, teríamos a inflação controlada. Quando temos algum ‘suspiro’ ou bolha de inflação vem de eventos externos, coisas que a nossa taxa de juros não conseguiria segurar. Somado a tudo isso, temos um ambiente externo ainda um pouco conturbado.
ABr: Em que sentido?
Haroldo Silva: A política norte-americana de juros parece levar a uma acomodação, lenta e gradual, de acomodação de aumento da taxa de juros. Se isso continuar assim, imaginamos que para os países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil, as coisas aconteçam normalmente, mas não temos certeza se esse ‘vôo da águia’ terá um pouso suave.
Além disso, temos o caso chinês que preocupa muito. Está havendo um grande número de importação de produtos advindos da Ásia, sobretudo da China, e isso está preocupando a indústria têxtil, principalmente porque o volume de importação tem crescido em uma velocidade maior do que as exportações e o grande peso disso são os produtos vindos da Ásia.