Dólar baixo e concorrência estrangeira preocupam empresários do setor têxtil

28/12/2004 - 8h55

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Na última parte da entrevista concedida à Agência Brasil, o coordenador de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Haroldo Silva, ressalta a preocupação dos empresários do setor em relação à baixa cotação do dólar frente ao Real no final deste ano. O economista destaca, também, a estratégia para concorrer com os produtos chineses no mercado interno e no exterior.

A abertura de novos mercados, segundo o coordenador da Abit, continuará sendo foco dos empresários do setor têxtil no próximo ano e eles esperam aumentar a parceria com o governo, principalmente o trabalho "fundamental" com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil).

Agência Brasil: O patamar do dólar preocupa o setor?

Haroldo Silva: A política de câmbio que o governo adotou de não-intervenção preocupa a indústria. Se a gente não tiver uma política de câmbio que aproxime o dólar para R$ 3,00, ficaremos preocupados para o próximo ano. Tirando esses fatores que mencionei, o empresariado nacional mantém a sua perspectiva de investimento, mantém os olhos firmes para o futuro e continua buscando clientes fora do país e tentando atender ao mercado interno da melhor maneira possível, com novos produtos, mais tecnologia e maior valor adicional dos produtos nacionais.

ABr: No caso da China, o Brasil vive um momento de aproximação com os chineses e é de conhecimento que a China é um país forte no segmento de têxteis. É uma ameaça, tanto para o mercado interno como para os novos mercados que o Brasil está conquistando? Como o governo poderia interferir?

Haroldo Silva: Tivemos a notícia de que, unilateralmente, a China está colocando algumas restrições às exportações de produtos têxteis. Eles [chineses] estão mencionando isso, mas se vai sair do discurso para a prática é uma outra história... O governo brasileiro pode começar a exigir que isso aconteça. Com o final das cotas, também temos a preocupação de que os mercados que conquistamos sejam absorvidos pela China.

O empresário nacional tem um papel fundamental que é continuar trabalhando na busca de novos mercados, como tem sido feito até agora; investir em novos produtos e tecnologia, mostrando que a gente pode – e o Brasil é muito competitivo, sobretudo em produtos oriundos do algodão – continuar agregando valor aos seus produtos; e mostrar que o diferencial do produto brasileiro vai muito além da qualidade, vai também na criação, na moda, no design, no estilo brasileiro de ser. Isso fica muito evidente nas feiras das quais a Abit e os empresários brasileiros participam fora do país.

Acho que novos mercados são o principal destino dos produtos brasileiros, mas o suporte do governo é fundamental, como o do pessoal da Receita Federal na fiscalização da entrada de produtos de origem e qualidade duvidosa no país. O empresário nacional também tem tomado medidas para pressionar e auxiliar o governo para proteger a indústria nacional sem aquele paternalismo que existia anteriormente.

ABr: Em relação a este trabalho de conquista de novos mercados que o senhor mencionou, houve uma parceria entre os empresários e a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil). Quais foram os resultados?

Haroldo Silva: O papel da Apex para o nosso setor foi fundamental, no patrocínio de ida às feiras, de material [promocional], no incentivo de pesquisas... A Apex tem tido um papel importantíssimo, de destaque, para o nosso setor. Foi uma parceria de muito sucesso, novos negócios e contratos estão sendo fechados. É uma parceria em que todos os lados ganham, sobretudo o Brasil.