Crescimento interno foi principal gerador de emprego na indústria textil, destaca economista

28/12/2004 - 8h54

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - O coordenador do departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Haroldo Silva, ressaltou que a busca de novos mercados, aliada à recuperação do mercado interno, impulsionou os negócios da cadeia têxtil, possibilitando a geração de novos empregos. Em entrevista à Agência Brasil, o economista atribuiu os resultados do setor em 2004 "a uma melhora do quadro interno".

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelaram que o setor têxtil gerou um saldo [diferença entre contratações e demissões] de mais de 80 mil empregos com carteira assinada nos onze primeiros meses de 2004. No ano anterior, o saldo fora de 17,7 mil empregos no período.

A Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de São Paulo, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), revelou um crescimento de 3,8% no nível de ocupação da indústria em novembro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O setor têxtil cresceu 4,9% no período, passando dos 70,4 mil empregados em novembro de 2003 para 73,8 mil no mesmo mês de 2004.

ABr: Segundo o Caged, o setor têxtil e de vestuário foi o segundo maior gerador de empregos na indústria de transformação de janeiro a novembro deste ano. Quais foram os principais fatores que possibilitaram esse desempenho?

Haroldo Silva: Na verdade, isso se deve a uma melhora do quadro interno neste ano. No ano passado, tivemos um momento de restrição macroeconômica muito forte. Por isso, o quadro de emprego não foi dos melhores. Mas neste ano, tivemos um bom resultado. Somado a isso, temos uma exposição maior dos produtos brasileiros lá fora [no exterior], sobretudo os produtos têxteis, tendo em vista as feiras e eventos que a própria Abit faz, o que resultou em uma melhora no saldo comercial brasileiro. A exportação brasileira de têxteis cresceu neste período que estamos analisando [de janeiro a novembro] mais de 26%, o que melhorou os empregos do setor.

ABr: Houve peso do crescimento do mercado interno nesse processo?

Haroldo Silva: Por certo. Na verdade, o mercado interno respondeu muito melhor do que no ano passado. A despeito desta melhor resposta, a gente deve sempre ponderar que a base de comparação, o ano de 2003, foi muito fraca. Ainda que a gente tenha um crescimento expressivo, não podemos nunca esquecer que a base de comparação foi fraca.O mercado interno responde por 80% a 90% de todo o consumo da indústria têxtil, de produção e confecção. O grande negócio da cadeia têxtil ainda é o mercado interno.

ABr: Os empregos gerados em 2004 pela indústria têxtil ocuparam apenas a capacidade ociosa da indústria? Quando o setor começará a fazer novos investimentos?

Haroldo Silva: A indústria têxtil já vem investindo cerca de US$ 1 bilhão de dólares ao ano nos últimos quatro anos. O investimento em máquinas e equipamentos neste ano aumentou quase 30% em relação a 2003. No ano passado, a indústria têxtil trabalhou com alguma capacidade ociosa. Neste ano foi preenchida grande parte desta capacidade ociosa. A indústria têxtil está trabalhando com um nível de utilização de cerca de 84% de toda a sua capacidade de produção. Ainda assim, a gente tem espaço para crescer e mesmo assim não perdemos o foco do investimento, continuamos investindo na compra de máquinas e equipamentos, e em treinamento de pessoal também. Esse emprego que foi gerado veio suprir parte da capacidade de produção, mas a compra de máquinas e equipamentos para modernizar as fábricas continuam acontecendo.

ABr: O senhor mencionou que a base de 2003 foi fraca. Quais foram os principais diferenciais entre 2003 e 2004?

Haroldo Silva: Quando você tem uma restrição muito forte no mercado interno, os empresários normalmente buscam o mercado externo. O que tem se notado de diferente desta vez é que o empresário nacional está com o foco na exportação, mas não para suprir aquilo que o mercado interno não está comprando. Agora estamos virando – se é que podemos dizer assim - ‘profissionais de comércio exterior’. Ainda que o mercado interno tenha alguma reação, a gente continua com vistas à tentativa de exportar. O diferencial foi que, além de um mercado externo melhor em 2004, a gente também tem uma recuperação do mercado interno.