Presidente do IBGE diz que pesquisa não informa quantas pessoas passam fome no país

21/12/2004 - 15h36

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – O Presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, prestou hoje esclarecimento sobre as interpretações dadas à Pesquisa de Orçamentos Familiares divulgada no final da semana passada pelo IBGE. O estudo levantou dados sobre a alimentação dos brasileiros.

O Presidente do IBGE disse que a pesquisa não procurou determinar se existem muitas ou poucas pessoas passando fome no Brasil. Essa dúvida surgiu porque um dos resultados da pesquisa indica que só uma parte relativamente pequena da população está abaixo do peso normal. Além disso, verificou que há uma porcetagem relativamente alta de pessoas obesas, com um excesso de peso que constitui problema de saúde.

Mas isso não quer dizer que há pouca gente passando fome no país. Nunes disse que não há informações na pesquisa para se tirar essa conclusão. "O que determina o padrão nutricional é a dieta alimentar de cada cidadão. Então, isso é que vai determinar se o cidadão é subnutrido ou não e não porque ele tem um peso acima ou abaixo de um determinado nível considerado razoável", disse Nunes.

"E se não há essa informação para dizer se o cidadão é subnutrido ou não, muito menos existe condições para dali se deduzir se há uma percentagem grande ou pequena de pessoas que passam fome. Não foi esse o objetivo da pesquisa do IBGE", afirmou.

O presidente do IBGE disse que problemas como a obesidade podem ser resultado da falta de recursos. "O brasileiro não sabe comer bem, mas talvez não o saiba porque não dispõe de renda suficiente para adquirir os alimentos que ele julgaria apropriados. Muitas vezes, a má alimentação é proveniente da insuficiência de renda para adquirir produtos mais adequados", afirmou hoje

Eduardo Nunes disse que a vida atual, com estresse diário, e o uso de comidas rápidas, do tipo "fast-food", contribuem para que o brasileiro se alimente mal. "O lanche rápido, quando feito com alimentos inapropriados, é tão nocivo à saúde quanto a falta de alimentação (...) E é exatamente isso que a pesquisa está mostrando".

Eduardo Nunes esclareceu que a pesquisa, que recebeu interpretações variadas, foi efetuada ao longo de 12 meses, incluindo a visitação de técnicos do órgão a 48 mil residências em todo o país. Em cada domicílio, o IBGE permaneceu 9 dias medindo todas as despesas e avaliando as fontes de renda, monetárias ou não monetárias, que as famílias dispunham para financiar seus gastos com a compra de alimentos ou de outros produtos.

Nos gastos com alimentos, além de avaliar a despesa feita pela família para compra do produto, o IBGE também pesava cada produto adquirido. Junto com esse peso, contando com apoio do Ministério da Saúde, o Instituto pesou e mediu todos os membros da família. A partir das informações obtidas foi construída a tabela que indica o padrão de peso da população brasileira. De posse dos dados referentes ao peso da população, o IBGE confrontou os indicadores com os padrões recomendados pela Organização Mundial de Saúde(OMS) para avaliar peso, nutrição e subnutrição da população nacional.

"Então, o que o IBGE nessa pesquisa informou é exatamente a distribuição da população segundo o peso de cada cidadão, sem querer com isso, tecer algum comentário ou tirar alguma conclusão se essas pessoas são subnutridas ou não, ou se essas pessoas passam fome ou não", explicou Eduardo Pereira Nunes.