Dirigente da Câmara Árabe destaca crescimento do comércio após a visita de Lula

11/12/2004 - 8h53

Liésio Pereira e Mylena Fiori
Repórteres da Agência Brasil

São Paulo - Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Paulo Sérgio Atallah, comenta com otimismo o incremento do intercâmbio comercial, afirma que a visita do presidente Lula impulsionou as relações bilaterais, aposta no potencial de negócios e diz que torce para que o Brasil passe a importar mais do que petróleo e fertilizantes do Oriente Médio.

Agência Brasil – O comércio do Brasil com os países árabes cresceu 48,2% de janeiro a novembro deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. A que se deve este aumento?

Paulo Sérgio Atallah - Este ano foi interessante porque a pauta de produtos aumentou, ou seja, exportamos maior quantidade de produtos e, daqueles que já exportávamos, tivemos dois comportamentos: os preços das ‘commodities’ subiram e alguns países que não importavam produtos tradicionais brasileiros passaram a importar.

Agência Brasil – Quais são os principais produtos no comércio entre o Brasil e os países árabes?

Paulo Sérgio Atallah – São produtos tradicionais, que a gente já exportava, mas alguns países passaram a importar outros produtos que não importavam antes. Os principais produtos são açúcar; carne bovina; carne de frango; minério de ferro; setor automotivo (começou a ter um papel importante); soja (complexo de soja e óleo de soja); este ano tivemos uma grande exportação de trigo; e houve uma exportação significativa de tubos de aço para petróleo.

Agência Brasil – Entre estes produtos que o Brasil já exportava ou passou a exportar neste período, houve algum destaque?

Paulo Sérgio Atallah – O setor automotivo é um destaque interessante. De US$ 100 milhões de janeiro a novembro de 2003 [de exportações para os países árabes], passamos para US$ 160 milhões. Crescemos 60%. Tivemos um crescimento grande para o Marrocos, Argélia, Arábia Saudita e Síria. Tivemos como destaque um crescimento, por exemplo, em laticínios. Este ano, exportamos US$ 13 milhões para o Iraque, US$ 5 milhões para a Argélia. Exportamos no ano passado US$ 500 mil em jóias e pedras para os Emirados Árabes e quase US$ 7 milhões neste ano. Para o Bahrein, nós não exportamos nada no ano passado e US$ 3 milhões neste ano. A pauta era curta e passou a ser longa. Tínhamos poucos produtos exportados para a maioria dos países e, hoje, a pauta cresceu para quase todos. Isso foi bom, um ótimo sinal, significa que, quando esses países passam a testar produtos novos, as exportações são pequenas, pois são para experimentar, testar, ver o gosto do consumidor, freqüência, frete e qualidade da embalagem. Mas quando confirmam o interesse, os pedidos tendem a aumentar bastante.

Agência Brasil – Há um ano, o presidente Lula visitou cinco países árabes: Síria, Líbia, Egito, Líbano e Emirados Árabes. Até que ponto essa visita ajudou no incremento do comércio?

Paulo Sérgio Atallah – Mais do que a presença do presidente da República, o ato em si de aproximação com os países e a própria postura do presidente em relação ao mundo árabe, realmente é um diferencial. Todo o mundo árabe recebeu a eleição do presidente Lula com muita alegria, porque ele já havia, ao longo dos anos, manifestado uma simpatia com o comércio multilateral mais ampliado - não só restrito aos mercados tradicionais - que a gente chama de ‘novos mercados’. Uma aproximação comercial. Nós, particularmente, já prevíamos um crescimento das exportações para estes países visitados. Por exemplo, para a Síria houve um crescimento de mais de 200% (isso aconteceu após a visita do presidente Lula), de janeiro a novembro deste ano. Praticamente todos os países visitados tiveram um grande crescimento [comercial]. Esses mercados [árabes] têm economia livre, administrativa, mas a sinalização dos governos é muito importante e essa sinalização foi muito boa, muito receptiva para o Brasil e os produtos brasileiros.

Agência Brasil – Ainda existem barreiras para o comércio entre o Brasil e os países árabes? Como estão sendo tratadas?

Paulo Sérgio Atallah – Cada país ou cada região tem uma definição dessas barreiras, mas a grande barreira é a falta de conhecimento, que está sendo vencida aos poucos. Nós (da Câmara de Comércio Árabe Brasileira)
criamos uma agência de notícias que está captando notícias nas fontes árabes, traduzindo para o português e veiculando aqui no Brasil - e estamos traduzindo as notícias brasileiras de interesse dos árabes para o inglês e mandando diretamente para as agências de notícias de lá – justamente para criar esta ponte de conhecimento. Acho que outra grande barreira – e não estou falando de barreiras técnicas ou fiscais – é a falta de um vôo direto do Brasil para um país árabe. Acho que em 2005 ou início de 2006 vamos resolver isso com o início das operações da Emirates Airlines, que deve voar de Dubai a São Paulo em um vôo direto. Aí sim, teremos um grande facilitador no crescimento do comércio e outras formas de relações - investimentos, parcerias e turismo.

Agência Brasil – Quais são as perspectivas para 2005 em relação ao comércio bilateral?

Paulo Sérgio Atallah – Os árabes têm vindo mais ao Brasil para trazer os seus produtos. Para 2005, a gente prevê um crescimento das exportações brasileiras em torno de 20%. Do lado das importações, estão muito vinculadas ao petróleo e derivados, além de fosfatos e fertilizantes. A pauta de importação é muito concentrada, gostaríamos de ver uma concentração bem menor e que mais produtos árabes, como azeites, vinhos e tâmaras, pudessem estar no mercado brasileiro.