Leonardo Stavale
repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os desafios e a importância do movimento estudantil, no passado e no presente, foram discutidos hoje, primeiro dia do projeto Memória do Movimento Estudantil na capital paulista. Antes, o evento foi realizado no Rio de Janeiro. Organizar, preservar e divulgar a história do movimento estudantil é o objetivo desse projeto, organizado pela Fundação Roberto Marinho.
"É um projeto de resgate da memória e ele tem o papel de contribuir para que a gerações de hoje e as gerações do futuro tenham condição de analisar essa trajetória e tirar lições", define José Alberto Saldanha de Oliveira, ex-secretário-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE). Saldanha participou do seminário Fazendo História: O Movimento Estudantil No Brasil e Na América Latina, nesta quinta-feira na PUC-SP.
A coordenadora-técnica da Memória do Movimento Estudantil, Angélica Müller, relatou as três fases do projeto. Inicialmente levantou-se toda a documentação no Rio de Janeiro e São Paulo para obter um guia de fontes. O segundo passo foi criar um arquivo oral com cem depoimentos de personagens importantes no movimento estudantil. Em 2005 o projeto entra na sua terceira fase: uma campanha com inserções na televisão para a doação de documentos.
O jornalista e autor do livro O Poder Jovem, Arthur José Poerner, participou da mesa de debates e ressaltou a importância da UNE. Segundo ele, a entidade tornou constantes as lutas estudantis que antes de sua fundação (em 1937) eram esporádicas.
A professora de história da Universidade de São Paulo, Maria Aparecido Aquino, destacou que durante a trajetória do movimento podem ser destacados dois momentos diferentes da participação estudantil. De acordo com ela há uma "onda de mobilização" que atinge seu ápice em 1968 e leva à luta armada por uma revolução socialista. A outra "onda" aparece em 1976 e 1977, com a luta pela reorganização da sociedade, pela democracia e pelo fim do regime militar.
Saldanha aproveitou para comentar a atuação da UNE atualmente. "Ela está tentando se adequar a uma realidade em que a maioria dos estudantes universitários está em escolas particulares. Então isso modifica a forma de atuação da entidade. O importante é não ter a pretensão de simplesmente reconstruir um passado que às vezes não é possível ser reeditado", analisa.
Maria Aparecida Aquino deu um recado para gerações de hoje, que segundo ela, têm um olhar nostálgico sobre o período glorioso do movimento estudantil. "Tão ou mais importante que lutar pela revolução é lutar, e vocês estão lutando, por justiça social", conclamou.