Aumento da demanda doméstica é importante para o crescimento, diz diretor do BC

06/12/2004 - 15h46

Cristina Índio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio - O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Afonso Beviláqua, afirmou que os dados econômicos positivos divulgados ultimamente mostram uma importância relativa cada vez maior da demanda doméstica na sustentação do processo de crescimento do país, o que pode ser explicado com as informações sobre consumo das famílias.

Segundo ele, esse consumo cresce por dois trimestres consecutivos a taxas compatíveis com o aumento do Produto Interno Bruto (PIB). "Temos aí um crescimento de consumo tão significativo, quanto foi a elevação de consumo de 2000, que foi o último ano que tivemos crescimento expressivo do país", disse.

Beviláqua chamou atenção ainda para o nível de elevação dos investimentos. Ele observou que se for verificado o comportamento do risco país, as perspectivas para o futuro são bastante positivas. Outro dado destacado por ele foi a elevação da geração de emprego e do crescimento da massa real de salários. "Todos esses dados sugerem que a economia se encontra efetivamente numa trajetória virtuosa de ascensão, que obviamente depende de mais fatores do que o entorno macroeconômico que temos hoje."

Segundo o diretor do BC, até o fim de setembro a economia brasileira acumulou cinco trimestres consecutivos de desenvolvimento e os dados do IBGE referentes ao terceiro trimestre do ano mostraram a maior taxa de aumento interanual em oito anos no Brasil. "O determinante fundamental desse processo de crescimento que estamos observando é exatamente o ambiente macroeconômico que foi gerado no país", afirmou.

Para Beviláqua, a política fiscal do país tem sido pautada pela sustentabilidade das contas públicas combinada com regime de câmbio flutuante sem definição de "qualquer meta" para a taxa de câmbio que, conforme afirmou, se altera de acordo com as condições do mercado. "Esse ajuste fez com que nós pudéssemos implementar um ajuste sem precedentes no balanço de pagamentos", acrescentou.

A trajetória virtuosa da economia só poderia ser complicada, diz Beviláqua, por uma deterioração do cenário econômico externo, uma vez que, segundo ele, ainda não foi concluído o caminho de redução das vulnerabilidades do país, embora já tenha havido avanços. Apesar disso, o diretor afirmou que dadas as atuais condições da economia o risco de contaminação por um choque externo foi bastante reduzido ainda que sejam da magnitude do ocorrido em 2002.

"É possível avaliar que a transmissão de tais choques à economia doméstica se dará dentro de uma dinâmica marcadamente distinta daquela que observamos em 2002", frisou. Beviláqua disse que um dos fatores que levam a pensar dessa maneira é o comportamento do balanço de pagamentos.

As declarações de Beviláqua foram feitas no painel "É possível crescer sem Comprometer a estabilidade?, do seminário "Taxas de Juros-estabilidade e Crescimento, promovido pelo BC e pela Associação Nacional das Instituições de Mercado Financeiro (Andima), na sede do BC , no centro do Rio.