Brasília, 3/12/2004 (Agência Brasil - ABr) - A balança comercial do agronegócio brasileiro apresentou superávit recorde de US$ 29,01 bilhões de janeiro a outubro deste ano. O resultado é 34,7% superior ao saldo do mesmo período do ano passado, que foi de US$ 33,05 bilhões. Com isso, a participação do agronegócio nas exportações brasileiras chegou a 41,8%. Os dados foram divulgados hoje pela Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O valor das importações de produtos agropecuários teve pequena variação (1,3%), totalizando US$ 4,02 bilhões no período, contra US$ 3,97 bilhões do ano anterior. De acordo com a CNA, a soja e a carne foram os principais responsáveis pelo bom desempenho do agronegócio no período. As exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo), no valor de US$ 9,29 bilhões, cresceram 29,1%, um acréscimo de pouco mais de US$ 2 bilhões sobre o valor exportado no mesmo período do ano passado. Segundo a CNA, o resultado positivo deve-se basicamente à elevação de 27% nos preços no período.
Ao comentar o resultado, o chefe do Departamento de Comércio Exterior da CNA, Antônio Donizeti Beraldo, comemorou o bom desempenho do agronegócio em 2004. "Nós exportamos US$ 35 bilhões e vamos importar US$ 5 bilhões, de forma que o setor vai ter um saldo positivo de US$ 30 bilhões". Beraldo lembrou que "isso é praticamente o saldo total das transações externas, que está estimado nessa faixa".
Ele ressaltou, entretanto, que o cenário positivo deste ano pode não se repetir em 2005, porque há uma conjugação de fatores que pesam negativamente. Segundo Beraldo, o primeiro é a "valorização do real frente ao dólar" e o segundo, "a tendência de queda generalizada das principais 'commodities' no mercado internacional, principalmente a soja, que foi o carro-chefe das exportações do agronegócio. A soja alcançou, em 2004, um total de US$ 10 bilhões. O terceiro fator negativo é o aumento dos insumos. Beraldo teme que a rentabilidade das exportações do setor em 2005 seja afetada pela combinação negativa dos três elementos.
O chefe do Departamento Econômico da CNA, Getúlio Pernambuco, explicou que neste ano o desempenho do setor do agronegócio teve taxa de crescimento de apenas 3,2%, considerada baixa em comparação com a do ano passado. "No entanto, isso significa que o setor ainda está dando contribuição para o crescimento econômico do país, sobretudo para as exportações", observou. Pernambuco disse que a preocupação dos produtores é decorrente "do aumento dos custos de produção das principais lavouras brasileiras e de uma tendência cadente dos preços no mercado internacional, em decorrência da safra recorde da produção norte-americana".
Ele ressaltou, entretanto, que não se trata de uma preocupação preventiva, uma vez que já houve uma efetivação em termos da estrutura de custos de produção agrícola neste ano. Além disso, observou, "os preços do mercado internacional, dados pelo mercado futuro, projetam valores menores de comercialização para o ano que vem".
Em termos de projeção para o ano que vem, Pernambuco disse que a expectativa é de que pelo menos o desempenho do agronegócio e do Produto Interno Bruto (PIB) da agricultura e da pecuária possam trabalhar num panorama de estabilidade em relação a este ano. "Ou seja, se conseguirmos as mesmas taxas para este ano, diríamos que já é um grande feito para o setor".
Para evitar a tendência de queda de faturamento do setor do agronegócio, motivada por preços cadentes agrícolas, Pernambuco considera necessária a adoção de políticas corretivas de suporte à comercialização. É preciso que haja uma "suplementação orçamentária para suporte e garantia de preços para o ano que vem de comercialização de produtos agropecuários e também a reversão do câmbio", afirmou Pernambuco. Para ele, isso deve vir acompanhado de uma desvalorização da moeda nacional.