Democracia avançou na Amazônia, avaliam especialistas

02/12/2004 - 14h23

Daniel Costa
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia

Brasília - Em série especial de entrevistas na Rádio Nacional da Amazônia esta semana, especialistas e representantes da população amazônica discutiram a democracia na região. Ao Jornal da Amazônia, Marcello Baquero, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que, a partir da década de 80, a Amazônia passou a ser vista como uma aérea estratégica para o Brasil, mas nem por isso a democracia na região é absoluta. "A Amazônia é uma área que ainda convive com índices elevados de descaso por parte das autoridades públicas. O clientelismo político, o paternalismo e o patrimonialismo ainda são observados na região Norte", diz.

Segundo o cientista político, a democracia no Brasil evoluiu depois de 1979, mas a relação entre democracia e desigualdade social continua distante. "Ainda continuamos com um processo de exclusão social acelerado. Os índices de pobreza têm aumentado nos últimos 25 anos", argumenta.

Para a líder comunitária do município de Tabatinga (AM), Terezinha Silva Barbosa, a principal vantagem da democracia é a liberdade. "A liberdade é linda, a democracia faz parte dela", ressalta. A líder comunitária lembra que, depois do processo de redemocratização no país iniciado em 1979, as pessoas puderam se expressar sem ter medo de represálias. "Eu me lembro que, quando eu era pequena, minha mãe gostava de cantar músicas do Chico Buarque e de Geraldo Vandré para eu poder dormir, mas ela tinha que cantar bem baixinho porque tinha medo de alguém escutar e denunciar a nossa família. Hoje não temos mais esse tipo de medo", relembra.

Segundo o cientista político José Gauby Soares Monteiro, da Universidade Federal do Pará, a Amazônia foi beneficiada com a volta da democracia. A afirmação foi feita numa entrevista ao programa Povos da Amazônia. De acordo com Gauby, a volta da democracia na região Norte ajudou no fortalecimento das organizações da sociedade civil e no surgimento de novas forças políticas. "A oligarquias tradicionais da Amazônia foram obrigadas a conviver com novas tendências políticas. E os vários grupos sociais organizados puderam atuar de forma mais efetiva. Acredito que a volta da democracia tem um saldo positivo", disse Gauby.

A democracia na América Latina é tema da conferência internacional "Democracia: Participação Cidadã e Federalismo", promovida pela Secretaria-Geral da Presidência da República e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que acontece em Brasília entre hoje e amanhã. Intelectuais e políticos de pelo menos oito países, além de quatro ministros brasileiros participam do evento, aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã de hojme.