Daisy Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Rio - Burocracia, falta de consenso e de uma visão estratégica de médio e longo prazos, além de medidas comerciais restritivas, são os principais problemas que os países que integram o Mercosul precisam superar. A conclusão é dos participantes do seminário que discute a integração latino-americana, promovido pela Fundação Getúlio Vargas.
De acordo com o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Botafogo Gonçalves, é preciso maior empenho dos governos e empresários do Brasil e da Argentina, para fortalecer as relações comerciais e sociais entre os dois países, apesar dos avanços dos últimos dez anos.
Gonçalves lembrou que 1994 o poder púbico e o setor privado tiveram a clareza de que era preciso criar novos instrumentos para a inserção do país no mercado internacional. Para ele, a relação Brasil-Argentina - eixo das relações entre os países do Mercosul - ainda depende muito da conjuntura internacional, e é preciso adotar medidas institucionais concretas na estrutura do bloco econômico para acabar com essa dependência.
Ele defendeu a aliança estratégica para o país, mas destacou que existem diferenças entre a necessidade de se fazer essa união e a capacidade de materializá-la. "Estamos muito no início da visão de uma união estratégica, e isso está afetando não só a posição dos governos, mas a posição dos privados. Precisamos analisar um pouco mais a questão bilateral Brasil-Argentina", ressaltou.
O presidente do Cebri criticou a política restritiva a produtos brasileiros adotada pela Argentina. Para ele, além de representar um retrocesso, cria um ambiente desfavorável às relações bilaterais. Gonçalves disse que, pelo fato de o Brasil ser o país mais forte do bloco econômico, deve ter uma participação ativa na recuperação da economia Argentina, para que haja equilíbrio nas relações.
"A idéia de que os países envolvidos no Mercosul têm compromisso entre si em relação à situação do outro ainda não é uma idéia que tenha penetrado, nem da prática, nem da teoria, no pensamento político, econômico e comercial do governo, seja no setor político, seja no setor privado; e essa é uma falha grave", ressaltou. Para ele, a falta de visão de conjunto é um dos motivos para que o acordo com a Comunidade Andina ainda não tenha sido finalizado, uma vez que reflete as indecisões que existem dentro do sistema Mercosul e dentro de cada país.