Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eduardo Rios Neto, sugeriu nesta quarta-feira (1), na Câmara dos Deputados, que o programa Bolsa Família adote como foco de ação a população negra. "Não faz sentido adotar outro pré-requisito com tantos dados mostrando que a desigualdade racial no Brasil é preponderante", afirmou o professor, logo após a apresentação dos principais dados do Atlas Racial Brasileiro.

Presidente da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, ele fez parte da equipe da UFMG que, por meio do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) comparou os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1980, 1991 e 2000. Para o pesquisador, entre os dados que mais chamam a atenção estão os índices de escolaridade.

O estudo mostra que a universalização do acesso ao ensino fundamental beneficiou pretos e pardos. Mas a entrada no ensino médio e superior ainda reflete desigualdades raciais. O número de mulheres negras no mercado de trabalho com ensino médio e superior incompleto é maior que o de brancas.

Entre 1980 e 2000, o índice de negras economicamente ativas com ensino superior aumentou dois pontos percentuais. No entanto, continua muito inferior ao de mulheres brancas. Nessa população, o percentual de mulheres no mercado de trabalho com ensino superior passou de 7,5% em 1980 para 11,42% em 2000.

"Até 2020, o grande desafio do Brasil é incorporar a população negra no ensino médio e superior para que ela possa sair da escola com o mesmo desempenho", acredita Eduardo Rios, que calcula em 20 anos o tempo mínimo para, no cenário atual, os negros atingirem índices semelhantes aos dos brancos.

"Temos que acelerar esse processo. É responsabilidade do Estado fazer com que o filho de uma mãe com um ano de escolaridade saia para o mercado com a mesma formação do filho de uma mulher que freqüentou a universidade."