Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu hoje (1º) as mortes do operário Santos Dias da Silva e da professora universitária Iara Iavelberg como responsabilidade do Estado brasileiro. Iara Iavelberg era companheira de Carlos Lamarca e morreu por suicídio forçado em agosto de 1971, aos 27 anos, em um apartamento em Salvador (BA). Já Santos Dias da Silva foi assassinado por policiais militares enquanto comandava uma manifestação em outubro de 1979, em São Paulo.
É a segunda vez que a Comissão analisa o pedido de indenização para a família de Iara Iavelberg. Antes da aprovação em maio deste ano da Medida Provisória 176/04 que estende a indenização aos parentes de pessoas mortas ou desaparecidas em manifestações políticas, confronto com a polícia ou que foram forçadas a cometer suicídio entre 02 de setembro de 1961 e 05 de outubro de 1988, o pedido de Iavleberg foi negado pela Comissão.
A lei prévia previa anteriormente o reconhecimento da morte apenas de pessoas com participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 02 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. "O caso foi aprovado por unanimidade. Ampliada a lei 9.140, tendo ela sido assassinada ou se suicidado, a família tem direito à indenização porque o caso está amparado pela lei", ressaltou Susana Lisboa, representante dos familiares de desaparecidos políticos na Comissão.
A Comissão não conseguiu esclarecer, no entanto, a verdadeira causa da morte de Iara Iavelberg. Há duas versões sobre a morte da professora. Uma, que teria sido morta após rápido tiroteio com policiais do DOI/CODI-RJ, deslocados a Salvador para prendê-la. Na tentativa de escapar à perseguição dos policiais, a professora teria se matado com um tiro na cabeça. A outra versão, baseada nos testemunhos de populares que assistiram à prisão Iara, aponta que a professora teria sido presa e levada e torturada na sede do DOPS local.
"Deferimos o caso de Iara na dúvida de suicídio ou assassinato. Mas a nossa atuação não acaba aí. Se amanhã ou depois aparecerem novos indícios, podemos continuar na busca real desse caso", afirmou o presidente da Comissão, Augustino Veit.
Segundo Susana Lisboa, a Comissão não conseguiu localizar o laudo do Instituto Médico Legal de Salvador com a causa morte de Iara. "O Estado reconhece a responsabilidade pela morte, indeniza a família, mas não têm provas para afirmar se foi suicídio ou assassinato. Temos a convicção íntima de que ela não se suicidou", afirmou Velt. O valor da indenização pelas mortes de Iara Iavelberg e Santos Dias da Silva ainda será calculada pelo Ministério da Justiça.