Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Ministério da Justiça vai inaugurar, até o início de fevereiro, em Goiás, o segundo escritório no país especializado no atendimento a vítimas do crime de tráfico de seres humanos. A informação é da coordenadora do programa Medidas Contra o Tráfico de Seres Humanos no Brasil, Marina Oliveira. Segundo ela, o estado - ao lado do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo - é um dos principais pontos de partida de mulheres que são levadas para o exterior e, por isso, um dos focos de atuação será o trabalho preventivo.
Além de Goiás, o governo federal deverá inaugurar escritórios no Ceará e no Rio de Janeiro, até julho de 2005. Com isso, serão quatro unidades em todo o país, incluindo a que já está em funcionamento em São Paulo. "Pela experiência de São Paulo, percebemos que a procura foi muito pequena, então a gente está descobrindo que é preciso ir atrás da vítima", ressaltou a coordenadora.
Marina Oliveira participou nesta segunda-feira do Seminário de Atualização sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes, que reúne até a próxima quarta-feira (1º) representantes das polícias Civil e Militar de todo o país, da Polícia Federal e do Ministério Público. O evento é promovido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Segundo a oficial do projeto do Programa para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, Cláudia Dias, o objetivo é aprimorar o conhecimento dos profissionais que atuam no combate ao tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual. "Há uma necessidade de haver uma melhor compreensão do que é exatamente isso, para que a gente tenha uma resposta mais qualificada", observou.
Cláudia explicou que o tráfico de crianças e adolescentes é uma das modalidades de exploração sexual infanto-juvenil, considerada pela OIT como "uma das piores formas de trabalho infantil". Uma pesquisa realizada pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), divulgada em 2002, identificou no Brasil cerca de 241 rotas nacionais e internacionais de exploração sexual. "A gente não pode ficar omisso em relação a essa prática, que viola direitos humanos e direitos sociais de todos os cidadãos".
De acordo com ela, a idéia é, ao final do encontro, elaborar um documento propondo ações integradas entre as polícias estaduais e Federal e o Ministério Público, para combater a impunidade. "O mercado da indústria do sexo é extremamente lucrativo, há demanda e oferta, por vários motivos. Se as pessoas ganham dinheiro na exploração de outras, para você parar isso, só com a presença do Estado, na questão da responsabilização das pessoas que aliciam, que traficam, que transportam, que compram serviços ilegais, no caso da exploração sexual de crianças e adolescentes".
A representante da OIT destacou também que o tráfico de seres humanos é uma das atividades mais rentáveis do crime organizado, com uma movimentação financeira estimada entre US$ 7 bilhões e US$ 9 bilhões por ano, em todo o mundo.
O chefe de Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal, Eriosvaldo Renovato, destacou que, nos últimos anos, o órgão passou por um processo de mudança no que se refere ao combate ao tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual. "Vige uma nova ordem dentro do Departamento de Polícia Federal, que é a de valorização da dignidade humana. Desse modo, a gente tem buscado sensibilizar e capacitar os policiais que atuam nessa área, para que possamos evitar um crime que é invisível e, por isso, precisamos de pessoas especializadas", afirmou.