Fabrício Ofugi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O desafio de aprofundar as conquistas da democracia na América Latina é tema de conferência internacional que acontece em Brasília entre as próximas quinta e sexta-feira. Intelectuais e políticos de pelo menos oito países, além de quatro ministros brasileiros participam da Conferência Internacional "Democracia: Participação Cidadã e federalismo", promovida pela Secretaria Geral da Presidência da República, em parceira com o o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e apoio da União Européia.
No início do ano, o PNUD lançou o relatório "A Democracia na América Latina: Rumo a uma democracia de cidadãs e cidadãos", texto que analisa o desenvolvimento humano e sua relação com a governança democrática no continente. Segundo o representante residente do PNUD no Brasil, Carlos Lopes, esta será a terceira de uma série de conferências internacionais. "São áreas que nós achamos que ficaram pouco cobertas pelo relatório", explica Lopes. Ele explica que a primeira conferência, no Chile, abordou assuntos relacionados à economia e a segunda, no México, questões sobre sistema político.
Carlos Lopes explica que a proposta do PNUD é atacar com a democracia os problemas que comprometem o desenvolvimento dos países latino-americanos. O relatório "tenta mostrar os caminhos para aprofundar a democracia e chegar à conclusão de que esses caminhos passam, alinhadamente, por esses países terem a coragem de incluir mais pessoas, que sentem excluídas dos sistemas democráticos", afirma. Ele lembra que a participação cidadã nas decisões políticas e econômicas é baixa no continente e afirma que, em alguns países, "há pessoas que não participam nem do ato eleitoral". Lopes acrescenta que houve "muitos ganhos" pela democracia na América Latina. "Sempre que há uma crise, no caso do Equador, da Colômbia, ela tem sido resolvida por meio constitucional", recorda.
O relatório do PNUD inclui uma pesquisa que ouviu mais de 19 mil pessoas em 2002 em diversos países da América Latina. Dos entrevistados, 45% aceitariam um regime ditatorial caso estivessem empregados. Segundo Lopes, isso demonstra "uma descrença de que a democracia resolva os problemas sócio-econômicos". Ele reitera que é preciso incluir as pessoas que estão fora do processo decisório, ou seja, "aquelas que não entenderam que têm direito, não sabem reivindicar".
Entre outros palestrantes, participam do evento em Brasília o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Aldo Rebelo (Coordenação Política), Tarso Genro (Educação) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), o subsecretário-geral das Nações Unidas, Zépherin Diabré, a diretora Regional para América Latina e Caribe do PNUD, Elena Martínez, autoridades da administração pública de países da América Latina, além de acadêmicos como o cientista social francês Alan Touraine e os cientistas políticos Maria Vitória Benevides e Fernando Abrúcio, entre outros.