Tecnologia social: arranjo produtivo obteve alternativa para extração mineral em município do RJ

24/11/2004 - 15h07

Fabiana Uchinaka
Repórter Agência Brasil

São Paulo - Um projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) aplicado no município de Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro, mostra como a ciência pode ser usada para garantir a atividade econômica e preservar o ambiente. A partir da articulação com universidades órgãos de governo, o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem/MCT) criou um novo arranjo produtivo local para reduzir o impacto no meio ambiente da extração mineral. A iniciativa foi apresentada na 1ª Conferência Internacional de Tecnologia Social, em São Paulo.

Segundo a coordenadora do projeto, Marília Stella Vaz Costa, a economia da região migrou da agricultura e pecuária para a atividade de extração mineral de rochas, de forma ilegal e sem planejamento técnico. "Isso começou a causar um dano ambiental e uma perda muito grande na atividade. Estima-se que 80% do que é extraído da pedreira se perde e apenas 20% é aproveitado e vira produto final", diz.

Nos anos 80, os órgãos de fiscalização ambiental passaram a fazer intervenções na região por causa do impacto da atividade no município. "A população começou a fazer denúncias, porque o corte da pedra é feito com água e essa água arrasta o pó (calcáreo) até os rios da região, que começa a assorear e matar o gado que bebe a água com resíduos", explica.

A primeira iniciativa dos órgãos de fiscalização ambiental foi fechar as pedreiras. "Só que a atividade tem um impacto econômico muito grande no emprego e na geração de renda da cidade. Santo Antônio de Pádua tem cerca de quarenta mil habitantes e seis mil deles trabalham nas pedreiras", explica Marília. A alternativa, então, seria articular o arranjo produtivo com tecnologias que melhorassem o processo de extração das rochas e tornassem a produção mais competitiva. "Tinha que ser um projeto simples e acessível ao poder aquisitivo dos pequenos e microempresários da região", resume.

O Cetem elaborou um projeto de instalação de tanques de sedimentação, ligados às serrarias de pedra por canaletas. A água é devolvida limpa ao ambiente e o pó das pedras é retirado do fundo. Foram instaladas 46 tanques, o que diminuiu a contaminação dos rios. As 138 serrarias de rochas de Santo Antônio de Pádua produzem cerca de 720 toneladas por mês desse pó, que agora será também utilizado de forma lucrativa. É o que explica Marília Costa: "Estudamos a aplicação deste pó em vários produtos, como cerâmica, borracha e asfalto. Mas o produto que deu mais certo foi a argamassa".

O estudo de viabilidade econômica do projeto de instalação da fábrica de argamassa já foi feito e os empresários esperam por um financiamento. "Será mais uma forma de geração de renda e emprego na região", acredita a coordenadora.