Brasília - O prefeito reeleito de Aracajú (Sergipe), Marcelo Déda Chagas (PT), quer transformar a saúde pública da capital com o projeto "Saúde Todo Dia". A proposta é investir na ampliação da rede e na qualidade do serviço. "Estamos investindo na qualificação dos serviços da rede básica através da informatização cada vez maior dos nossos consultórios viabilizando um menor tempo de espera entre a consulta e a marcação de exames".
No setor de habitação, Déda pretende oferecer, por meio do projeto "Moradia Cidadão", dez mil moradias para famílias que moram em barracos, invasões e palafitas. Segundo ele, o objetivo é erradicar essas moradias para a partir daí, criar bairros com uma melhor qualidade de vida "com um conceito novo, um conceito de mais respeito ao cidadão".
Eleito com 71,38% dos votos, Déda acredita que o bom resultado alcançado nas eleições de 2004 é devido as linhas administrativa e política adotadas na gestão atual. "Esses dois eixos (administrativo e político) são um novo conceito de pensamento público da Administração Pública, aliados à uma política de participação popular e de transparência nas ações dos municípios. Eles deram uma base para que a comunidade resolvesse manter esse estilo de administrar", avaliou o prefeito. A seguir, a íntegra da entrevista concedida à Rádio Nacional na série de entrevistas com todos os prefeitos eleitos nas capitais brasileiras:
Rádio Nacional: O senhor teve como iniciativa no primeiro mandato as obras de reurbanização do orçamento participativo e a participação dos conselhos escolares na administração pública. No seu segundo mandato o senhor está conduzindo a sua administração pública com mais atenção na área da saúde, prefeito?
Marcelo Déda: Sem dúvida. Muito embora no primeiro mandato nós tenhamos feito uma verdadeira revolução com a municipalização plena da saúde no município de Aracaju. Mas nós estamos dando continuidade a esse trabalho de transformação da saúde pública do município com o projeto "Saúde Todo o Dia", e estamos na expectativa de ampliar sensivelmente os serviços que nós acertamos e também a qualidade desse serviço. A nossa intenção é no próximo ano entregar o primeiro hospital municipal de Aracaju, já que nós não temos nenhum hospital municipal, temos apenas o hospital geral do estado, teremos um hospital especializado em urgências e emergências que deverá ter as suas obras iniciadas no primeiro semestre do ano que vem. Também estamos investindo na qualificação dos serviços da rede básica através da informatização cada vez maior dos nossos consultórios viabilizando que haja menos tempo de espera e sobretudo, menos tempo entre a consulta e a marcação dos exames . Portanto, é um investimento na ampliação da rede e na qualidade do serviço.
Rádio Nacional : Prefeito, as urnas deram uma resposta clara em Aracaju. O senhor foi reeleito com mais de 71% votos. Qual foi o trabalho que o senhor pretende continuar agora?
Marcelo Déda: Creio que é difícil encontrar um único trabalho, mas eu acredito que a linha administrativa que nós adotamos, e a linha política de condução do destino da cidade foram os principais responsáveis pelo resultado. Por um lado uma linha administrativa moderna e transparente no combate incessante à corrupção. Uma afirmação da importância dos serviços de qualidade e uma renovação inclusive na equipe de governo dando oportunidade a jovens técnicos que mostraram imensa capacidade de trabalho e isso foi fundamental.
Além disso, a concepção filosófica e política da inversão de prioridades, isto é, a prefeitura colocar mais recursos ali onde o povo mais precisa nos bairros da periferia e o conceito de participação popular através do orçamento participativo, que permitiu ao longo de quase quatro anos de mandato conseguiu reunir para discutir o futuro da cidade algo em torno de 60 mil aracajuanos em vários eventos de orçamento participativo, congressos da cidade, etc. Isso para uma cidade que tem 460 mil habitantes. Então eu creio que esses dois eixos é um novo conceito de pensamento público da Administração Pública aliado a uma política de participação popular e de transparência nas ações dos municípios. Eles deram uma base para que a comunidade resolvesse manter esse estilo de administrar, manter o chamado modo petista de governar e nos dar mais uma vez a oportunidade de conduzir os destinos dessa bela cidade que é Aracaju.
Rádio Nacional: Prefeito, a cidade de Aracaju se modernizou e já oferece uma excelente estrutura para o turismo, mas a violência também cresceu proporcionalmente ao desenvolvimento. Como é que o senhor pretende lidar com esta questão?
Marcelo Deda: Esse problema da violência, que é um problema que infelizmente tem sido verificado em todo o Brasil, principalmente nos grandes ou médios centros urbanos também aconteceu em Aracaju. Mas ao comparar os índices de violência de Aracaju com os índices de violência do país especialmente dos grandes centros urbanos você percebe e verá que ainda é uma cidade que pode se dizer tranqüila. Óbvio que existem eventos, que existem ocorrências que não nos agrada, mas Sergipe como um todo tem reduzido sensivelmente os casos de violência e tem sido inclusive apontado como um dos estados que tem tido mais resultados nesse sentido. Nós prefeitos não temos competência constitucional para enfrentar o problema da violência já que nós não temos atribuições na área da segurança pública, mas nós não podemos ficar de braços cruzados.
Estamos buscando constantemente oferecer a nossa contribuição, criando uma cultura da paz, criando uma educação voltada para o combate à violência e também nós temos aqui estimulado a construção de uma guarda municipal que nós já temos funcionando em Aracaju. Fizemos concurso público para renovar os seus quadros, 200 novos servidores guardas municipais foram contratados e a nossa intenção é fazer com que a guarda contribua especialmente na política preventiva criando bases para que a violência seja evitada, já que a tarefa de combatê-la é uma tarefa do governo do estado e do próprio governo federal naqueles crimes considerados crimes federais.
Rádio Nacional: No setor de habitação, o senhor tem uma proposta arrojada de oferecer moradia a dez mil famílias por meio do projeto Moradia Cidadão. E esse projeto como é que vai funcionar?
Marcelo Deda: Esse projeto é uma mistura que envolve várias ações dos municípios e também a parceria com o governo federal para dar resposta ao déficit habitacional da nossa capital. Ele envolve desde ações diretas da prefeitura até parcerias com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, o programa Habitar Brasil BID, que é uma parceria com Ministério das Cidades, do BID e da Prefeitura Municipal, cujo objetivo é erradicar palafitas, erradicar moradias subnormais, moradias precárias, para a partir daí construir bairros com qualidade de vida, com um conceito novo, um conceito de mais respeito ao cidadão, construindo casas para aqueles que moram em barracos, em invasões e palafitas.
Ele envolve também parcerias com a Caixa Econômica Federal através de programas de urbanização de lotes e a colaboração da prefeitura com o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica no programa do Arrendamento Residencial, o PAR, que é um recurso que a Caixa Econômica disponibiliza e que depende de Legislação Municipal para viabilizar a redução de tributos e inclusive a concessão de áreas públicas onde poderá ser realizada a construção de casas populares. É um projeto que se alicerça, sobretudo em parcerias, tendo em vista que a capacidade de investimento própria do benefício numa área tão cara quanto é a construção de habitações não suportaria sozinha a responsabilidade de oferecer esse programa à comunidade.
Rádio Nacional: Sobre sua implantação de arranjos produtivos locais como parceiros de alavancagens e geração de empregos. Como serão esses arranjos?
Marcelo Deda: Um dos fenômenos que a economia brasileira tem assistido é a emergência desses arranjos produtivos locais. Aqui no Nordeste nós temos o exemplo de Caruaru, que conseguiu estimular a vocação da produção têxtil e articular essa produção a partir de pequenos empreendimentos que são articulados em arranjos produtivos e que terminam estimulando a geração de emprego e renda e viabilizando a economia e o desenvolvimento local. Mas aqui, através da Fundação do Trabalho e da Secretaria do Planejamento, nós temos produzido um trabalho de pesquisa para localizar as locações ainda hoje chamada de economia informal. Buscar, oferecer, através do micro-crédito, estímulo para que essa economia que hoje está na informalidade, pequeno, médio empreendedor venham à formalização das suas atividades, e também estimulando a produção cooperativista.
Temos projetos que têm através de unidades produtivas do município estimulado isso. Estamos também trabalhando a perspectiva de criar um pólo digital aqui na capital, estimulando a produção de sofware, já que Aracaju é uma cidade universitária. Temos praticamente 20 mil universitários. Isto é, estimular o desenvolvimento local e buscar operar através de arranjos produtivos, com parcerias, articulados com entidades públicas e privadas, ver uma alternativa de crescimento local que não se dê apenas pela renúncia fiscal e pela atração, ou tentativa muitas vezes em vão de atrair grandes empresas de outros locais, mas estimulando aqui a vocação econômica do município.
Rádio Nacional: De que forma a sua prefeitura vai trabalhar a relação com a oposição. Como é que a administração pública vai dar espaço a oposição durante essa gestão?
Marcelo Deda: Em primeiro lugar nós temos todo respeito pela oposição, até porque eu tenho uma experiência de dez anos de vida pública no parlamento e tenho plena compreensão do papel indispensável que a oposição cumpre. Eu acho que o prefeito tem que, não apenas se preocupar em combater a oposição, mas, inclusive acompanhar, porque muitas vezes a oposição apresenta propostas ou sugestões que podem ser úteis ao crescimento do município. Agora é claro que há setores da oposição que fazem um tipo de deletéria, de apenas fazer ataque, de apenas agredir, de apenas tentar inviabilizar e desestabilizar a gestão.
Eu creio que a melhor vacina para este tipo de oposição mais sectária, mais radical é a responsabilidade do governo de trabalhar de manter-se junto ao povo, porque o povo é quem tem a principal compreensão do que nós estamos fazendo e, portanto ele tem manifestado como a própria eleição revelou, uma votação extraordinária. A sua solidariedade neste projeto administrativo e a sua disposição de defender a sua cidade e qualquer tipo de política que tenha por único objetivo desestabilizar a gestão.
É obvio, repito, que é minha vontade sempre manter um diálogo positivo, um diálogo construtivo com a oposição de Aracaju. Óbvio que aqueles setores que não quiserem o diálogo e partirem para a mera agressão terão da sociedade democrática a rejeição que só pode ocorrer para quem ao invés de trabalhar, busca atrapalhar o trabalho alheio.