Brasília, 19/11/2004 (Agência Brasil - ABr) - Cerca de 60 índios de 20 etnias da Bahia, Tocantins, Rondônia e Mato Grosso cobraram mais atenção do governo federal em relação à assistência à saúde indígena. Eles participaram de audiência coletiva na Procuradoria Geral da República, com representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – que é responsável pela política de atenção à saúde indígena - e integrantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do Ministério da Justiça e do Ministério Público Federal.
Uma das principais preocupações dos índios diz respeito ao fato de aqueles que não vivem em aldeias receberem atendimento médico em hospitais e postos de saúdes, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), em vez de serem atendidos pelos profissionais que atuam nas próprias comunidades. "A Funasa diz que não tem estrutura suficiente para atender os índios que vivem fora da aldeia e que, na cidade, eles podem ir a posto médico. Eu tenho parentes que, muitas vezes, quando vão no posto e pegam uma receita, não têm condição de comprar remédio", afirmou a índia Valdenice Tupinambá de Olivença, da etnia Tupinambá de Olivença, que vive no município de Ilhéus, no sul da Bahia.
Segundo Valdenice, 3,7 mil índios de sua etnia recebem assistência à saúde das equipes da Funasa. Mas ela estima que pelo menos 1,3 mil vivam fora das aldeias, sem atendimento médico diferenciado. "Quem está na cidade não tem o mesmo direito do índio da aldeia e é considerado homem branco. Muitos não moram na cidade porque querem: eles foram expulsos por fazendeiros e moram nas periferias", explicou.
Antônio Puruborá, da etnia Puruborá, de Rondônia, informou que desde o início do ano até mesmo os índios que vivem na sua aldeia têm que ir às zonas urbanas se quiserem receber assistência médica. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o atendimento na região indígena foi terceirizado, por meio de convênios que acabaram cancelados no começo de 2004.
"Hoje a Funasa não está atuando junto aos índios da minha etnia", reclamou Antônio Puruborá, que citou entre outros problemas a dificuldade de comunicação com os médicos que atendem os índios nas cidades. "A maioria dos adultos não fala português, só a língua indígena", explicou. Segundo a representante do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Wladmary Mendonça de Azevedo, essa questão não é de responsabilidade da Fundação. "Isso teria que ser discutido com os gestores municipais de saúde, para que eles pudessem ampliar a capacidade de dar as respostas que essa comunidade requer", argumentou.
O diretor de Assuntos Fundiários da Funai, Artur Mendes, disse que casos como o de Rondônia podem ocorrer, uma vez que no país existem mais de 600 áreas indígenas, "mas certamente as medidas esão sendo tomadas para que isso não se prolongue". E a representante da Funasa informou que no estado não houve interrupção do atendimento diferenciado para os índios: "É um processo de transição, em que novas equipes multidisciplinares serão contratadas para compor a área. Atualmente, a Funasa trabalha diretamente nas áreas indígenas, com um número de profissionais um pouco abaixo do ideal."