Brasília - O prefeito eleito de Rio Branco (AC), Raimundo Angelim (PT), afirma que os investimentos em programas de inclusão social e infra-estrutura serão as prioridades de sua administração. Com uma população de mais de 270 mil habitantes, Angelim diz que Rio Branco "está abandonada". "Nós temos hoje um contingente grande de pessoas que moram na periferia que não tem emprego e tem baixa escolaridade".
Para reverter esse quadro, Angelim propõe a implementação de programas de economia solidária, além do incentivo aos pequenos negócios. "Rio Branco tem um espaço grande para trabalhar com agroindústrias, com artesanato. E nós temos aqui ao lado uma coisa importante: um mercado consumidor de mais de 30 milhões de pessoas em nossa fronteira com Peru e Bolívia."
O prefeito destaca ainda a boa relação com outros membros do seu partido, como o governador do estado, Jorge Vianna, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Facilita a administração e é bom que se diga que o presidente Lula conhece os 22 municípios do Acre. Temos o governador Jorge Vianna que já foi prefeito. Isso facilita muito, abre portas."
Formado em economia, o novo prefeito é deputado estadual e foi eleito no primeiro turno com 49,50% dos votos. Ele venceu o candidato Marcio Bittar (PPS), que teve 41.73%.
A seguir, a entrevista concedida pelo prefeito à Rádio Nacional AM:
Nacional AM - Rio Branco, capital do Acre, tem uma população acima de 270 mil habitantes. A partir de janeiro a cidade terá como prefeito Raimundo Angelim, do PT, eleito para administrar a capital nos próximos quatro anos. Deputado estadual, além de ter exercido as funções de secretário do Trabalho e chefe da Casa Civil no governo de Jorge Vianna, Raimundo Angelim, 49 anos, é economista, professor universitário e já foi superintendente do Sebrae no estado.
Nacional AM - Prefeito, quais as prioridades que o senhor pretende implementar diante do orçamento disponível assim que assumir a prefeitura de Rio Branco?
Raimundo Angelim - Rio Branco é uma cidade que há oito anos não tem prefeitura. Não tem prefeitura no sentido de que a cidade está abandonada. A nossa periferia, os bairros mais distantes estão totalmente abandonados e a nossa prioridade será na área da infra-estrutura. Mas concomitantemente há um grande trabalho de inclusão social. Nós temos hoje um contingente grande de pessoas que moram na periferia que não tem emprego e tem baixa escolaridade. Então, nós temos que fazer um trabalho de infra-estrutura, não só de pavimentação asfáltica, mas também de tijolos. Vamos fazer também um programa de inclusão social através de um programa de segurança alimentar. Ou na área de economia solidária para que a gente possa de imediato atender as pessoas que mais necessitam e depositaram esperança na nossa candidatura, que são as pessoas mais pobres na nossa capital.
Nacional AM - Prefeito, o senhor situa o problema da infra-estrutura da sua cidade e a inclusão social nesses primeiros passos do seu mandato. Com que orçamento o senhor vai conseguir resolver a situação?
Angelim - Nós temos um orçamento em Rio Branco muito pequeno. Temos um orçamento para 2005 que foi feito por essa atual administração de R$ 142 milhões. Mas nós temos uma facilidade. Acho que Rio Branco nunca teve uma oportunidade tão boa de ter um prefeito que vai ter um governador do mesmo partido, o companheiro Jorge Vianna. Trabalho com ele há 12 anos. Fui secretário do Jorge na prefeitura municipal de Rio Branco, fui chefe da Casa Civil e, ultimamente, era secretário das Cidades. Temos o governo federal também para sermos uma parceria, além de termos hoje uma bancada federal cuja maioria apóia a nossa candidatura. Então, eu conto não só com o orçamento que é pequeno do poder público municipal, mas também com as parcerias, principalmente do governo do estado para que junto possamos fazer muito mais pela nossa cidade.
Nacional AM - Rio Branco centraliza o atendimento no setor de saúde. Muitas pessoas de outros municípios vão para lá, pessoas de aldeias indígenas também vão lá em busca de atendimento. Esse setor, não só em Rio Branco e assim como em uma enorme maioria dos municípios, se mostram deficientes. Quais serão as suas primeiras ações nessa área?
Angelim - O que é de responsabilidade da prefeitura são as ações básicas de saúde e as médias e altas complexidades são de responsabilidade do estado. O estado hoje está construindo o Hospital do Idoso. Nós temos aqui a maternidade que é o Hospital da Mulher. Temos uma Fundação Hospitalar do Acre que é de alta complexidade e atende não só pessoas que vem do interior, mas também pessoas do Peru e Bolívia, da fronteira.
Já estamos trabalhando na transição para que a gente possa trabalhar de forma muito presente, na ação básica de saúde nos postos e centros com o programa Saúde da Família. Também para reduzir esse fluxo muito grande que tem hoje para os hospitais do estado e aos de média complexidade porque precisamos desafogar, precisamos ter um atendimento básico na ponta, na residência através do programa Saúde da Família, nos centros, nos postos, na zona rural para poder, então, ter atendimento de qualidade nos hospitais e nos prontos socorros de responsabilidade do estado. Estamos com uma equipe de transição junto à equipe do governo do estado trabalhando justamente nisso.
Nacional AM - O legado deixado por Chico Mendes, voltado para a consciência da preservação ambiental, de alguma forma poderá influenciar o sr. na administração de Rio Branco?
Angelim - Sem dúvida. Todos nós participamos do governo desde causas lideradas pelo Chico Mendes e agora pela Marina, pelo Jorjão, pelo Tião, por nós aqui. Temos como legado, como liderança a questão ambiental, a preservação do meio ambiente, mas temos que focar a questão do meio ambiente e o homem. Na nossa administração o homem é o foco principal no sentido de não só tirá-lo da exclusão social, mas principalmente focando também na área da educação.
O estado tem um dos maiores programas proporcionais do Brasil na área de alfabetização de adultos e uma parceria com a Pirelli. O estado hoje tem um programa de desenvolvimento sustentável, que é reconhecido no Brasil e até internacionalmente. E na prefeitura também vamos trabalhar muito com a questão ambiental porque nós temos muitos igarapés, muitos córregos, rios que precisam ser preservados. E também a questão da nossa arborização. Rio Branco é uma cidade encravada no meio da Amazônia, mas ainda necessita de uma arborização melhor para que a gente tenha uma melhor qualidade de vida.
Nacional AM - Em município, como o sr. mesmo citou, com poucos recursos existem problemas sérios de infra-estrutura. Como atrair investimentos e conseqüentemente gerar trabalho e renda?
Angelim - Com a minha experiência do Sebrae e como economista e professor da Universidade. O estado acaba de concluir a construção de um novo distrito industrial e está focando no trabalho com madeira, na exploração inteligente e racional da madeira para a exportação, para construção de móveis. Nós iremos focar nesse primeiro momento mais na área de pequenos negócios. Acredito que Rio Branco tem um espaço grande para trabalhar com agroindústrias, com artesanato, desde que a gente trabalhe as cadeias produtivas como um todo. E nós temos aqui ao lado uma coisa importante: um mercado consumidor de mais de 30 milhões de pessoas em nossa fronteira com Peru e Bolívia. Acho que a economia do Acre não pode estar voltada pensando em exportar para Rondônia, para o Centro-Oeste e para o Sul.
Nacional AM - Uma questão delicada é a questão social. Muitos indígenas vão para a capital pedir esmolas. Como o sr. pretende solucionar isso? O sr. pretende fixar as comunidades indígenas em suas área e também no entorno de Rio Branco? Como o sr. vai lidar com a questão social?
Angelim - Esse é um problema sério em Rio Branco. O próprio governo do estado, eu estava em sua equipe, trabalhou muito, mas existem determinadas nações indígenas em que você faz um trabalho de acolhimento, de retorno à aldeia e com poucos dias eles retornam às cidades e ficam ao longo das ruas, amamentando os filhos, pedindo ajuda às pessoas que estão passando. Este é um problema sério e devemos trabalhar junto à Funai, à Secretaria dos Povos Indígenas do Acre.
O Acre é um dos poucos estados que tem a Secretaria dos Povos Indígenas já atuando nesta área. Queremos fazer uma parceria para que a gente possa - não digo acabar de vez porque aí é um problema sério. Estamos há seis anos trabalhando isso com muito carinho. A gente leva os índios de volta às suas aldeias e eles em poucos dias voltam. Mas isso é um trabalho que a gente tem que ter muita serenidade para tratar. Não pretendo fazer moradias para índios em Rio Branco. Acho que o melhor lugar do índio é junto ao seu povo, junto à sua nação, junto à sua aldeia. O Acre é um dos poucos estados que tem um tratamento especial para as nações indígenas com um trabalho de acolhimento, de atenção, não só através da Funasa, nós temos também uma secretaria estadual que trata desta questão.
Nacional AM - Prefeito, ter um presidente da República do Partido dos Trabalhadores, um governador também do Partido dos Trabalhadores pode tornar mais fácil a sua administração?
Angelim - Facilita a administração e é bom que se diga que o presidente Lula conhece os 22 municípios do Acre. Desde a década de 80 o presidente visita o estado. Ele tem um carinho especial pelo povo do Acre. Temos o governador Jorge Viana que já foi prefeito - diga-se de passagem, um dois maiores prefeitos que Rio Branco já teve - e isso facilita muito, isso abre portas. Disse na campanha e volto a dizer: "não vamos resolver todos os problemas de Rio Branco em quatro anos". Mas poderemos dizer daqui a quatro anos: "como o Rio Branco está melhor, como o povo tem uma melhor qualidade de vida".
Se disser qual área em que não precisa ser feita alguma coisa, eu estaria mentindo. Todas as áreas são prioridade. Quero priorizar - e é de responsabilidade do município - a educação infantil. Ela é absorvida em sua maior parte pelo governo do estado, nós podemos reverter essa realidade para o município se ater e priorizar a educação infantil.
Na área de saúde, precisamos focar nas ações básicas de saúde e hoje isso deixa muito a desejar. Como eu já falei, precisamos um trabalho forte na área de infra-estrutura, na área de inclusão social, na área de geração de emprego. Então, é impossível que em quatro anos a gente possa resolver todos os problemas. Agora, tem que apresentar bons projetos para podermos aproveitar esses momentos, esses ventos favoráveis de ter um presidente da República do nosso partido, amigo do Acre e ter um governador do nosso partido. Agora, dizer que vamos resolver tudo não dá porque o Brasil é muito grande e os problemas são enormes.