Dia Nacional do Cinema é comemorado hoje em tempo de sucesso da produção brasileira

05/11/2004 - 17h48

Brasília, 5/11/2004 (Agência Brasil - ABr) - Hoje é o Dia Nacional do Cinema e o Brasil tem muito a comemorar: o público de filmes nacionais deu um salto de 236% em relação a 2002; a renda, de 310%; mais de 8,8 milhões de pessoas foram ao cinema assistir a produções brasileiras nos primeiros 6 meses de 2003, enquanto no mesmo período de 2002 esse número foi de apenas 2,6 milhões. Um dos exemplos de sucesso foi o filme "Cidade de Deus", que rendeu R$ 18 milhões nas bilheterias, com 3,1 milhões de espectadores.

Foi na década de 60, que o cinema brasileiro ficou internacionalmente conhecido com os talentos de Anselmo Duarte, Nelson Pereira e Glauber Rocha. Na década de 70, alcança a melhor participação histórica: cerca de 33% das salas de exibição do país eram ocupadas pelas produções nacionais. Com a ditadura militar e a repressão, vem o declínio do cinema novo e o auge da "pornochanchada". A década de 80 também é marcada por duros golpes, como o fechamento da Embrafilme. E assim, nos anos 90, a produção nacional ocupou apenas 0,05% do mercado e menos de 5 filmes eram feitos por ano.

O preço do ingresso subiu e assim começou a elitização do cinema. No ano passado, o preço médio nacional do ingresso foi de R$ 6,70 e 2004 deve fechar em R$ 7,30. O Brasil tem hoje 1.920 salas de exibição, três vezes menos do que o México, por exemplo. Para melhorar a situação foi assinado nesta semana, entre o Ministério da Cultura e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) uma linha de financiamento para construção e reformas de salas de cinema em todo país.

Com boas bilheterias e investimentos de grandes estúdios e emissoras de TV, o cinema brasileiro se tornou o novo queridinho do governo federal. Em 2003, foram produzidos 40 filmes. As exibições cresceram 12%, a Lei Rouanet bateu recorde de arrecadação, o novo Conselho de Cinema foi instituído, a lei que irá criar a nova Agência para regular o setor está sendo preparada e a participação brasileira nos festivais internacionais e as indicações aos maiores prêmios cinematográficos, entre eles o Oscar, voltaram a fazer parte da trajetória do cinema brasileiro.

"Essa retomada, além do aspecto econômico teve a característica de, pela primeira vez, não estar como sempre em ciclos, escolas e movimentos. Hoje o cinema está caracterizado pela sua diversidade de pontos de vistas dos cineastas, temática e estética", analisa o secretário do Audiovisual do ministério da Cultura, Orlando Senna.

Mas nem tudo são flores. Muitos brasileiros nunca tiveram a oportunidade de assistir a uma história numa sala de projeção. Raimundo da Silva trabalha com serviços gerais. Aos 34 anos e recebendo um salário mínimo, sonha em um dia conhecer o cinema. "Pra quem tem dinheiro não é não, mas pra quem não tem é caro. Vontade o cabra tem, o problema é o tempo. Eu acho que deve ser bom, tenho vontade, mas não tenho tempo e dinheiro, né?", brinca.

Há também quem já foi e não tem vontade de voltar. Maria Dalva tem 42 anos e é copeira. Em princípio diz que não tem a mínima vontade, mas em seguida, ela confessa. "Só fui uma vez, há uns vinte anos, não achei muita graça e na fui mais. Filme a gente assiste em casa. Era um filme que falava dos reis das minas de Salomão. Tinha um cara que brigava com a moça de vermelho, bem bonito o filme. De vez em quando eu tenho vontade de ir", admite.

O Brasil espera que a retomada não seja mais uma boa fase, mas o começo de uma nova história. Com final feliz.