Governo deve criar secretaria para juventude, afirma Luiz Dulci

04/11/2004 - 17h46

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O governo federal deve criar uma secretaria própria para cuidar das questões dos adolescentes e jovens e desenvolver políticas públicas para eles. A afirmação é do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci. "Cresceu o número de organizações juvenis criadas pelos próprios jovens para defender os seus interesses. Na medida em que o movimento de jovens vai crescendo, a democracia brasileira vai incorporando a questão e surgem as políticas públicas", explica o ministro.

O Brasil possui hoje 48 milhões de jovens entre 15 e 29 anos. Segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que entrevistou 10 mil jovens em julho deste ano, percebe-se que, com o passar dos anos, eles se distanciam dos estudos. 83% dos adolescentes de 15 a 17 anos estão estudando. De 24 a 26 anos, apenas 18% continuam com os estudos. Aos 27 anos, 87% dos jovens não estudam mais.

Para a pesquisadora Miriam Abramovay, uma das coordenadoras do estudo, é preciso elaborar políticas públicas que não atendam apenas a educação ou a saúde, mas englobem todos os aspectos do universo juvenil, como investimento em cultura e lazer. "Os recursos para a infância são sempre maiores que para a juventude. Só quando os jovens começam a dar trabalho na questão da violência é que se começa a olhar os jovens com outros olhos", afirma a pesquisadora.

A falta de oportunidades culturais é um dos problemas mais sérios, segundo a pesquisa. Apenas 3% dos adolescentes de 15 a 17 anos vão ao teatro e 2% a museus. 17% freqüentam bibliotecas e cinemas. E 18% vão aos estádios. De acordo com a pesquisa, 21% dos jovens acessam o computador diariamente. Porém, mais de 40% dos adolescentes das classes D e E não acessam nunca.

A satisfação do jovem com a vida também foi pesquisada e 69% dos entrevistados disseram estar satisfeitos, enquanto 22% estão insatisfeitos. Já em relação à política, apenas 8% dos jovens de classe A e B e 9% dos jovens de classe D e E disseram confiar em partidos políticos. Entre as instituições, a Justiça conta com o maior grau de confiança para 58% dos jovens de classe D e E, 44% dos de classe C, e 39% das classes A e B.

A pesquisa foi divulgada hoje durante o lançamento do livro da Unesco Políticas Públicas de/para/com juventudes, que mostra experiências e políticas desenvolvidas com sucesso nos países da América Latina. Bolsas de estudo concedidas aos jovens pelo governo argentino, as escolas de tempo integral chilenas e o programa de AIDS brasileiro são algumas dessas experiências consideradas exemplares.

"A campanha do desarmamento mostra como o Brasil pode ter políticas exitosas. A Argentina acaba de aprovar a campanha, que também será realizada lá", anuncia o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein.