Grupos políticos do Haiti retomam o diálogo, diz mediador brasileiro

01/11/2004 - 18h50

Lourival Macedo e
Juliana Cézar Nunes
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Após dez anos, os principais grupos políticos do Haiti voltaram a dialogar em reuniões sobre o processo eleitoral coordenadas pelo mediador brasileiro Ricardo Seintenfus, especialista em Relações Internacionais e autor do livro "Haiti, a soberania dos ditadores", e que está há dez dias na capital haitiana, Porto Príncipe, a convite do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Diretor da Faculdade de Direito de Santa Maria (RS), Seitenfus comemora a abertura das negociações, mas lembra que o clima de tensão ainda persiste: "Conseguimos fazer com que nesse diálogo político não fosse excluída nenhuma força política do país. Só serão excluídos os movimentos e grupos que defenderem o uso da violência".

O mediador brasileiro no Haiti revela que as reuniões já contam até mesmo com a participação dos políticos ligados ao Lavalas, partido do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, deposto no início deste ano. Para Seintenfus, a estabilização política depende de uma maior participação da comunidade internacional, inclusive por meio de ajuda econômica para a reestruturação social.

"O nosso grande esforço é fazer com que os haitianos aceitem a disputa eleitoral como sendo algo normal da democracia. O concorrente precisa ser visto como um adversário político, a ser combatido no campo das idéias", explica o especialista. "A oposição ao processo é velada, oportunista, vem de quem não tem condições de ganhar a eleição. Por isso, é importante que a comunidade internacional acompanhe a situação de perto."

O Brasil comanda a Força de Paz das Nações Unidas no Haiti desde maio deste ano. Nos últimos meses, a situação no país ficou tensa depois que um furação matou 3 mil pessoas e deixou milhares de desabrigados. Em setembro, a ação de gangues obrigou os militares brasileiros a intensificar o apoio às operações policiais.

O comandante da Força de Paz, general Augusto Heleno Pereira, acredita que esses episódios não estão relacionados com partidos políticos, mas com grupos criminosos. Ainda assim, ele vê no processo eleitoral um grande desafio.

"Aqui, o convívio com a democracia foi efêmero e curto. Não há o hábito de se falar em instituições democráticas, direitos humanos", conta o general. "Tudo tem que ser buscado. Se não fosse difícil não haveria uma missão de paz aqui."

O Haiti possui cerca de 5 milhões de habitantes, dos quais 95% vivem em condições precárias, abaixo da linha da pobreza. Um governo de transição prepara as eleições para os últimos meses do próximo ano. A expectativa é a de que em fevereiro de 2006 um governo eleito pelo povo assuma a administração do país.