Número de mulheres eleitas aumenta, diz cientista política

31/10/2004 - 14h42

Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Ao falar sobre o tema a Mulher na Política, em entrevista à Rádio Nacional AM, a cientista política da Universidade de Brasília (UnB) Lúcia Avelar analisou os dados do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) que dão conta que, nestas eleições, 6.555 mulheres foram eleitas vereadoras e 404 conquistaram as prefeituras de suas cidades. Segundo ela, nas eleições proporcionais locais como agora as mulheres têm uma presença maior. "Isso se explica, uma vez que nesses casos é muito mais fácil uma mulher conciliar o trabalho que ela tem com a família e com a profissão com a política, que seria um projeto da mulher que estaria em terceiro lugar numa ordem de prioridades".

Para Lúcia Avelar, tem que se levar em conta que essas mudanças políticas são muito lentas e também envolvem mudanças culturais mais profundas no sentido de democratizar tanto o espaço familiar quanto o espaço de trabalho com o poder político. "Ainda mais se a gente levar em conta o fato de que o Brasil tem o poder político muito concentrado, que é um sistema muito elitista, que reflete as origens do poder político cujas origens têm raízes familiares e oligárquicas", refletiu, ponderando que em quase todos os países ocorre da mesma forma.

Na opinião de Lúcia Avelar, "a desconcentração do poder" é um projeto que tem que avançar de uma forma consciente e no Brasil se está caminhando para um nível de consciência maior do eleitor no sentido da desconcentração desse poder.

"Em um país que tem herdeiros da escravidão e do patriarcalismo como o Brasil, os negros e as mulheres hoje lutam para mobilizar as pessoas no sentido de terem consciência dessa desigualdade da representação do poder político", argumenta Lúcia Avelar, para quem, com isso, essas "minorias" procuram se organizar e assumirem papéis políticos de modo a influenciar nas políticas públicas e sociais. Ela cita como exemplo de equilíbrio de poder entre homens e mulheres a Suécia onde há 50% de participação de cada um desses grupos. "No Brasil estamos despertando para isso e a gente sente uma alegria de que as gerações seguintes vão encontrar um país bem melhor se nós tivermos uma progressão no sentido que nós estamos tendo em cada eleição".

Indagada sobre a participação feminina nas eleições nas regiões Sul e Sudeste, onde os índices de candidaturas de mulheres a cargos de prefeitas são menores do que em outras regiões menos desenvolvidas, Lúcia Avelar ponderou que esse é um ponto interessante da democracia brasileira e do modo como ela vem assimilando muito lentamente as mulheres e os herdeiros da escravidão na política.

"Seria de se esperar que justamente nesses estados que a cultura política mais tradicional desse um número menor de mulheres na política, mas é justamente o contrário", argumentou. Segundo sua observação, com exceção do Pernambuco, que tem um menor envolvimento da mulher na política, os outros estados nordestinos registram um contingente significativo de mulheres nas eleições. "O que é mais interessante é que essa participação feminina tem uma história que data da década de 1920", frisa ela.

De acordo com a cientista política, essas mulheres que atendem ao apelo do sistema eleitoral e se tornam candidatas vêm em grande parte de famílias políticas e por muito tempo havia um certo preconceito contra elas no sentido de que elas reproduziam os padrões familiares oligárquicos predominantes nessas regiões. "Hoje, nós temos evidências que mostram que mesmo que originalmente elas saiam dessas famílias de poder político fortemente concentrado, no seu desdobramento elas acabam adquirindo uma consciência de prática feminista das necessidades de políticas especiais que sejam voltadas para essa população feminina", comprova ela.

Com relação à reforma política, Lúcia Avelar disse que as mulheres têm trabalho incessantemente no sentido de que a reforma política acolha, por exemplo, "um sistema partidário de lista fechada para que as mulheres tenham a oportunidade de terem seus nomes encabeçando a lista dos candidatos dos respectivos partidos". A cientista ressalta que, entretanto, a luta é difícil porque são duas grandes alterações que precisam ser feitas na lei para que as mulheres possam ter seus nomes nas primeiras opções dessas listas eleitorais.