Cabo garante a parlamentares que Exército tem documentos do período da ditadura

27/10/2004 - 20h32

Brasília, 27/10/2004 (Agência Brasil - ABr) - O cabo reformado do Exército, José Alves Firmino, afirmou hoje durante audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados que existem documentos referentes ao período da ditadura militar no Centro de Inteligência do Exército, em Brasília. "Eu garanto que dá para encher alguns caminhões com esses documentos do regime militar", afirmou.

O cabo foi chamado para explicar como obteve documentos que entregou à comissão em 1997. Entre os papéis, estavam as supostas fotos do jornalista Vladimir Herzog, que morreu nas dependências do Dói-Codi, em São Paulo, na época do regime militar.

Firmino disse que não sabia de quem eram as fotos. Ele contou que recebeu, em 1995, três caixas com documentos em sua casa, mas não informou quem entregou os arquivos. "Desconfio que foi um oficial do setor, revoltado com alguma coisa lá dentro", explicou.

O cabo Firmino confirmou que na década de 90 atuou como "araponga" do serviço de inteligência do Exército em movimentos estudantis e dos sem terra, disfarçado de jornalista. Segundo ele, o trabalho de espionagem ainda existe.

"Nos dias atuais há uma preocupação dos meios de inteligência de fazer vigilância a alguns parlamentares e movimentos sociais, como o MST", ressaltou.

José Firmino disse aos parlamentares que sente medo pela segurança dele e de sua família. "O medo existe porque o setor de inteligência não tem o controle total", explicou. Ele contou que na semana passada, em Goiânia, enquanto aguardava equipe do jornal O Globo duas pessoas passaram em uma moto com placa raspada e o intimidaram. "Disseram que eu estava falando demais e que eu viria a morrer", disse.

O Exército comunicou que não vai se pronunciar sobre o depoimento do cabo Firmino.