Turismo sexual no Amazonas é tema de discussões de fórum em Brasília

26/10/2004 - 13h48

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes está acompanhando a apuração do possível envolvimento do presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputado Benício Tavares (PMDB), com turismo sexual e exploração de adolescentes durante passeio de barco pelo Rio Negro.

A coordenadora do grupo, Elizabeth Leitão, disse que o exemplo do Amazonas demonstra a articulação e atuação de redes criminosas. "Precisamos trabalhar de forma muito mais estruturada. Em cima da prioridade apontada pelo presidente Lula, estamos trabalhando na estruturação de um tecido muito mais forte, tanto no campo do enfrentamento, a partir da consolidação de políticas públicas, quanto da revisão legislativa e da atuação no sistema de defesa e responsabilização", explicou.

Ela participa do Fórum de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, promovido pelo Comitê Nacional de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em parceria com outras entidades da sociedade civil. O objetivo do encontro é discutir o turismo sexual no Amazonas, com destaque para o episódio no qual o deputado Benício Tavares é acusado de envolvimento.

Para Elizabeth, o caso é emblemático. "Não vamos sossegar enquanto essa questão não estiver devidamente esclarecida, para a sociedade brasileira, para a família das meninas, de modo que, de certa forma, a gente possa barrar essa iniqüidade".

Segundo ela, um dos principais agravantes é que, muitas vezes, os criminosos que estão por trás da exploração sexual de crianças e adolescentes ocupam função pública de destaque. "Esse crime se inscreve numa estrutura de poder, de uma pessoa com maior poder sobre outra. Adultos que deveriam estar protegendo são os principais violadores", destacou.

Integrante da Comissão de Ética da Câmara Legislativa do Distrito Federal, a deputada Érika Kokay (PT) também participou dos debates. Segundo ela, o fórum representa a reação da sociedade civil contra a exploração sexual de crianças e adolescentes. "O combate à exploração sexual passa pelo combate à impunidade, o que significa combater a omissão, o preconceito, combater a ‘naturalização’ da exploração sexual. A sociedade tem que reagir".

Para o procurador do Ministério Público do Trabalho, Maurício Corrêa de Mello, o fato de Benício Tavares ter foro privilegiado não dá, necessariamente, margem à impunidade. "Isso não quer dizer que ele vá deixar de ser julgado. Ele precisa ser julgado pelas instâncias devidas e receber um julgamento justo, em que a verdade apareça", defendeu.