Brasília, 23/10/2004 (Agência Brasil - ABr) - A Campanha Nacional pelo Desarmamento ganhou, neste sábado (23), apoio dos alunos da escola particular NDA Junior. Eles deixaram as brincadeiras do sábado para ir à escola trocar a arma de brinquedo por um brinquedo feito com material reciclável – fantoches de pano e garrafa plástica.
De acordo com a diretora da escola, Andréa Bichara, a iniciativa tem o objetivo de conscientizar as crianças sobre os perigos das armas e o repúdio à violência. Ela informou que foram realizados estudos com psicólogos e oficinas com os pais e alunos para estimular a adesão ao projeto. "Tivemos uma grata surpresa de perceber que grande maioria não tinha arminhas de brinquedo. Os pais já vinham trabalhando isso dentro de casa", ressaltou a diretora.
Os brinquedos de sucata foram produzidos pelos próprios alunos. A escola recebeu também mil bolas produzidas por detentos da Penitenciária da Papuda e livros.
A diretora informou ainda que a campanha vai ser realizada todos os anos e que a comunidade será incentivada a participar. A expectativa da escola é recolher cerca de 500 armas de brinquedo, que serão vendidas para empresas de reciclagem. A escola doará o dinheiro arrecadado para uma creche e um asilo do Distrito Federal que apóia há cinco anos.
O aluno André Ferreira, de 8 anos, era um dos mais animados com a campanha. Logo cedo, trocou sua arma e já sabia a importância de sua atitude: "Eu achei muito bom porque vai ajudar o futuro das pessoas."
A campanha contou com apoio do Teatro dos Detentos da Papuda, que apresentou uma peça alusiva ao projeto. Um dos integrantes do grupo, Célio Cunha, disse já ter vivido de perto o mal causado pelo uso de armas. "Eu e um colega roubamos uma arma do pai dele, quando eu tinha 13 anos. E foi a partir daí, que nós viramos bandidos", lembrou. Célio Cunha foi condenado a mais de 11 anos de prisão por causa de um assalto a mão armada.
Jovens vítimas
Os jovens, em especial entre 15 e 24 anos, são as principais vítimas da violência no país. De acordo com o Mapa da Violência IV divulgado neste ano pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), os índices de violência envolvendo a juventude são 100 vezes maiores no Brasil, em comparação com países como Áustria, França e Japão.
Em 2002, quase 40% dos homicídios atingiram jovens e apenas 3,3%, a população adulta. Dos 48.196 jovens mortos naquele ano, 31,2% foram vítimas de armas de fogo. Cinco anos antes, as mortes entre jovens por armas de fogo correspondiam a 25,7% do total.
Com informações da Secretaria Especial dos Direitos Humanos