Questão nuclear: campanha de desinformação quer constranger governo brasileiro, diz Bustani

18/10/2004 - 12h35

Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Notícias internacionais sobre a suposta preocupação de países desenvolvidos para que o Brasil permita as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na fábrica de enriquecimento de urânio em Resende (RJ) não revelam declarações oficiais, mas deixam no ar a idéia de que o Brasil está fazendo algo errado. A afirmação é de José Maurício Bustani, embaixador do Brasil em Londres e ex-diretor da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq). A visita dos inspetores da AIEA está marcada para amanhã.

Entrevistado pelo boletim Em Questão - editado pela Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica -, Bustani disse ter "a sensação de que há uma campanha de desinformação para constranger o governo brasileiro". Segundo o artigo publicado pelo embaixador no jornal Folha de S. Paulo, "importantes interesses parecem incomodados com o fato de o Brasil, ao passar a enriquecer urânio em escala comercial, estar se tornando um país cada vez mais capacitado na
área nuclear".

O embaixador afirma que todas as iniciativas brasileiras seguem os princípios constitucionais, que proíbem atividades nucleares com fins militares. E acrescenta: "nossas aspirações nucleares são legítimas e pacíficas e visam atender às necessidades de nosso extenso litoral, às demandas do desenvolvimento".

Bustani explica em seu artigo que a unidade de Resende permitirá o enriquecimento de urânio em escala comercial, tornando o país autônomo na produção de combustível nuclear. Segundo ele, o Brasil poderá exportar o produto e quebrar o monopólio internacional na área. "Preocupa que o Brasil avance em seu projeto de propulsão naval, tornando-se o sétimo ou oitavo país do mundo a se dotar de um submarino nuclear, alcançando proeminência estratégica no Atlântico Sul", afirma no artigo.

O embaixador acredita que será encontrada a solução técnica para garantir a inspeção da AIEA. "Se a nossa tecnologia vazar, não apenas perderemos competitividade científica, técnica, comercial e industrial, como nossos intensos esforços de capacitação nuclear podem vir a ser retardados, como acontece há décadas". E acrescenta: "Não podemos permitir que se possam mapear aspectos de nossa tecnologia em que ainda não alcançamos capacitação plena".