Marina Domingos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os alunos do Centro de Atendimento Integral à Criança (Caic) São Francisco, em Catalão (GO), não sabem como será o amanhã, mas já aprenderam de onde vieram e como terão de fazer para melhorar seu futuro. Num bairro pobre da pequena cidade, a professora de história Eriziane de Moura e Silva mudou a vida de um grupo de 350 crianças, por meio do projeto Cidadania Não Tem Idade. "Não tem como falar de cidadania se não há uma recuperação histórica da identidade das pessoas", ensina a professora.
Ao longo de dez anos de magistério, Eriziane descobriu que oferecer às crianças um pouco de cidadania poderia fazer com que elas lutassem por seus direitos e adquirissem mais consciência de seus deveres para com a escola, a família e a sociedade. "Se as crianças perdem a identidade, não têm como ser cidadãs, praticantes, atuantes, que sabem dos seus deveres e também sabem brigar pelos seus direitos", ressalta.
Para chegar ao cidadão mirim, a professora realizou um trabalho gradativo. Os alunos trouxeram para a escola objetos e documentos que lembrassem os primeiros anos da infância, que pudessem se transformar num retrato de cada um que, mais tarde, pudesse ser compartilhado com os outros. "Cartão de vacina, certidão de nascimento, sapatinhos e fotografias para que eles pudessem contar suas histórias", relembra Eriziane.
As constantes brigas que causavam tumulto no recreio e os maus modos dos estudantes foram sendo esquecidos por um trabalho de construção da identidade de um novo e pequeno cidadão que aprendia os primeiros passos para se posicionar num mundo globalizado e cheio de informações. "Nós trabalhamos os direitos humanos. À medida que você exagera no seu direito, estará ultrapassando o direito do outro. É preciso respeitar o outro para que o outro te respeite", avalia.
O projeto, um dos ganhadores do Prêmio Incentivo à Educação Fundamental, promovido pelo Ministério da Educação (MEC) e a Fundação Bunge, teve como ponto alto a confecção de carteiras de identidade fictícias, nas quais foram colocadas as digitais das crianças, como se fosse numa situação real.
"A gente reservou um dia para que pudessem tirar a identidade, colocar a digital no papel. Então, eles puderam dizer: eu tenho identidade, sou cidadão, meu nome é esse", diz a professora orgulhosa de seus alunos.