Fabiana Uchinaka
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Na década de 1930, quando assumiu o Departamento de Cultura da capital paulista, o escritor modernista Mário de Andrade iniciou um projeto de resgate da cultura tradicional brasileira. Sua missão foi a primeira de pesquisa do folclore nacional: em cinco meses, percorreu as regiões Norte e Nordeste e registrou um grande número de manifestações que traçariam as coordenadas do nosso patrimônio cultural.
Agora, o Ministério da Cultura pretende retomar esse trabalho nos Pontos de Cultura. "Será um novo mapeamento, como o feito por Mário de Andrade, mas os próprios ‘fazedores’ de cultura poderão gravar as manifestações de seu povo", diz o secretário de Programas e Projetos Culturais, Célio Turino, que participou hoje de reunião com representantes dos 35 pontos do Estado de São Paulo.
O secretário do Ministério explica que na primeira etapa do programa serão 214 pontos de cultura em todo o país, com o objetivo de "irradiar e recepcionar as produções culturais desenvolvidas em comunidades carentes". São Paulo terá o maior número de pontos e dos 35 previstos, 20 serão na capital. Cada ponto terá um kit multimídia que inclui câmera de vídeo digital, microfones, amplificador para gravação e dois computadores que funcionam como ilha de edição. Essa captura etnográfica já pode ser vista, por exemplo, nas filmagens feitas pelo Projeto Vídeo na Aldeia, com índios de Rio Branco, no Acre. Os próprios índios registram suas expressões artísticas, com as câmeras filmadoras.
Turino conta que o uso do software livre permitirá que os pontos de cultura sejam conectados à internet, formando uma rede que une "falares e formas de interpretação de vários cantos do Brasil". Esta rede de comunicação, acrescenta, "irá ligar as diferentes comunidades, do hip hop dos centros urbanos aos repentistas nordestinos".
Em todo o país, cerca de um milhão de pessoas carentes poderão ser envolvidas nos pontos de cultura. Os investimentos serão de aproximadamente R$ 50 milhões por ano. As unidades também acolherão 5 mil jovens pelo programa Primeiro Emprego, numa parceria entre o Ministério da Cultura e o do Trabalho que investirá R$ 45 milhões em bolsas nos 600 pontos de cultura previstos até 2005 no país. Cada ponto terá 50 bolsas de R$ 150, durante seis meses.
Os jovens serão capacitados para trabalhar nos pontos de cultura e receberão cursos de computação, audiovisual, DJ, grafite, contadores de estórias, orientadores de leitura, construtores e restauradores de brinquedos, web design e programação, promotores culturais e de festas, restauradores de bens patrimoniais, entre outros. "A inserção formal de jovens no mercado de trabalho pela cultura é uma possibilidade muito mais rica", comemora o secretário.
O Ministério da Cultura pretende chegar a mil pontos no Brasil e no exterior até 2006. Turino disse esperar que o projeto seja adotado também em países de Língua Portuguesa, no Mercosul e em locais de grande concentração de brasileiros.