Campanha vai combater tráfico internacional de seres humanos

06/10/2004 - 6h45

Bianca Estrella
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O governo federal lança hoje (6), em Goiânia, uma campanha de combate ao tráfico internacional de seres humanos com foco principal nas mulheres. O objetivo é distribuir material informativo em pontos de grande movimentação, como aeroportos e superintendências regionais da Polícia Federal. O tráfico internacional de seres humanos é hoje a terceira atividade criminosa que mais movimenta dinheiro no mundo, cerca de US$ 9 bilhões por ano. A campanha será desenvolvida em conjunto pelo Ministério da Justiça e o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC).

A secretária Daniela Alves, moradora da cidade de Rio Branco, foi uma das vítimas do tráfico de seres humanos em 1995. A brasileira foi convidada por uma amiga para trabalhar no Suriname como agente de viagens, mas, logo que chegou, percebeu que seria obrigada a trabalhar como prostituta em uma boate.

Seus documentos foram todos confiscados e Daniela, que na época tinha 22 anos, foi obrigada a assinar um contrato em que se comprometia a pagar tudo o que havia sido gasto com seu transporte até o país. "Toda a menina brasileira que chega ao Suriname é obrigada a trabalhar para pagar o que é gasto com transporte e residência", informa. "Com três meses de trabalho, elas voltam ao Brasil para buscar novas garotas e depois são transferidas para outros países, como Alemanha e Holanda, para continuar com o visto de turista", explica.

Uma pesquisa publicada no Brasil, em 2002, sobre o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial, constatou que o Suriname está entre as principais rotas de tráfico de seres humanos. O estudo coordenado pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria) comprovou também que o Suriname recebe meninas dos estados do Pará, Amazonas, Roraima e Amapá.

Daniela se negou a trabalhar como prostituta. A brasileira passou a viver momentos de horror. "Eu vivia apavorada e aterrorizada. As meninas que trabalhavam na boate eram proibidas de me dar qualquer ajuda mas, mesmo assim, elas me ajudavam", relata Daniela. "Lá é muito ruim, mas existem muitas meninas que trabalham porque buscam uma vida melhor, estão lá por necessidade", relata.

Com a ajuda de brasileiras residentes no Suriname e da embaixada do Brasil, Daniela conseguiu voltar depois de três semanas. Hoje, ao lembrar de tudo, a secretária se emociona e deixa um recado para meninas que pensam em trabalhar na prostituição internacional. "Uma garota de programa não representa nada. É apenas uma espécie de peça de vitrine que os outros olham e escolhem. É deprimente", enfatiza.