De 15 mil candidatos a prefeito, 1.400 são mulheres

03/10/2004 - 9h19

Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Apesar do número de eleitoras no Brasil ser maior do que o número de eleitores, as candidaturas femininas são em número bem menor. Entre os 15 mil candidatos a prefeito, por exemplo, pouco mais de 1.400 são mulheres. Em entrevista ao NBR Manhã, noticiário da TV NBR, o cientista político do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibesp), José Luciano Dias, disse que, embora isso ocorra, "não existem barreiras institucionais à presença da mulher na política brasileira".

Dias lembra que o país tem mulheres governadoras e prefeitas de capital. Ele se diz otimista em relação à presença cada vez maior das mulheres na política nacional. Segundo o cientista político, um dado positivo é que a sociedade brasileira é permeável à presença da mulher. "A questão é que o jogo da política é um jogo específico, com regras específicas, com carreiras, e é preciso que a mulher entre nisso de forma mais sistemática".

José Luciano Dias explica que a realidade brasileira, de pequena participação da mulher na política, não é diferente do resto do mundo. Segundo ele, o processo de eleições no mundo tem 200 anos e o processo de emancipação da mulher acabou de fazer 100 anos. Para Dias, a entrada da mulher na política é um processo lento, que não tem nada a ver com a expansão do eleitorado. "A presença da mulher na política, no mundo, é limitada e não é uma especificidade do Brasil", acrescenta.

Sobre a possibilidade de uma tendência de voto feminino, onde as mulheres votariam em grupo e decidiriam uma eleição, o cientista político salientou que o que existe tecnica-mente é que, por algumas circunstâncias e alguns motivos específicos, as mulheres, como grupo social, podem mesmo decidir a eleição. Na sua avaliação, normalmente mulheres e homens se dividem igualmente por todos os candidatos. "Entretanto", admite, "como as mulheres, como grupo social, têm sensibilidade a outros tipos de fatores, certos candidatos ou certas plataformas atraem mais mulheres do que os homens, ou ao contrário".

Esse fenômeno, de acordo com Dias, foi visível nas duas eleições do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Para o cientista do IBESP, Bill Clinton era um candidato que, se o eleitorado americano fosse só masculino, certamente perderia as eleições. "Como o seu carisma e sua plataforma tinham um apelo especial para as mulheres, ele teve um diferencial de votos entre as mulheres que garantiu as duas eleições para ele".
Tal comportamento, na visão de Dias, ocorre com o eleitorado feminino e não com o masculino. "O masculino é menos específico nisso e, então, a mulher, paradoxalmente, em determinadas circunstâncias, pode decidir uma eleição".