Núcleo de Pesquisas da Radiobrás
Brasília, 21/9/2004 (Agência Brasil - ABr) - Desde o início da década de 80, agricultores ligados a movimentos da agricultura alternativa e assentamentos de reforma agrária lutavam para criar um sistema de crédito que atendesse suas necessidades. A partir de 1988 a idéia de formar uma cooperativa de crédito rural com interação solidária começou a se consolidar como um desdobramento dos fundos de créditos rurais, criados e administrados por entidades e movimentos pastorais, sindicais e organizações não governamentais das regiões sudoeste e centro-oeste do Paraná.
Em 1995, após anos de estudo, realizando intercâmbio de experiências localizadas de crédito cooperativo em diversas regiões do país, surge a primeira Cooperativa de Crédito Solidário – Cre$ol, na micro-região de Dois Vizinhos, no Sudoeste do Paraná. Ainda em 95 surgiram outras quatro cooperativas Cre$ol: em Marmeleiro, Pinhão, Laranjeiras do Sul e Capanema.
Os princípios orientadores das cooperativas de crédito solidário eram: interação solidária, democratização do crédito (fácil acesso), descentralização (horizontalização), profissionalização do crédito, ampliação do acesso ao crédito e serviços bancários, transparência em todo processo e contribuir para o desenvolvimento alternativo, socialmente justo e não degradante do meio ambiente.
A experiência se alastrou rapidamente pela região sul. Em dezembro de 2002 o Sistema Cre$ol era composto por 71 cooperativas, numa área de abrangência geográfica de 208 municípios nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, alcançando cerca de 30 mil associados.
Como funciona uma Cre$ol
Com o objetivo de conceder crédito pessoal ou rural de forma rápida, imediata e que atenda as necessidades do agricultor, as linhas de crédito são coordenadas pelo diretor de crédito de cada cooperativa que tem sob sua responsabilidade todas as atividades relacionadas aos empréstimos, trabalha em sintonia com o Comitê de Crédito e a Comissão Municipal de Crédito.
O comitê é composto pelo presidente da cooperativa, pelo diretor de crédito e por um funcionário da Cre$ol. A comissão é formada pelo diretor da Cre$ol, um representante (sócio) de cada organização de agricultores familiares, um representante do Conselho Municipal de Agricultura e um grupo de três a seis sócios do município.
Modalidades de crédito
Crédito Pessoal, com liberdade de aplicação; Crédito de limite em conta corrente, com liberdade de aplicação; Crédito Rural, que deve ser aplicado conforme projeto e orçamento e Crédito Rural, que pode ser corrente, educativo ou especial.
O crédito pode ser individual, solidário (para grupos de no mínimo três pessoas com atividades independentes, mas com responsabilidade conjunta) e associativo/cooperativo, destinado às associações e cooperativas, para uma unidade de produção comunitária.
A partir do momento que o Conselho de Administração da cooperativa aprova o cadastro do associado, este recebe um número de matrícula e uma conta corrente. Quando efetuar o primeiro depósito o cooperado já pode obter o talão de cheques.
Quanto ao limite para o cheque, o associado da Cre$ol solicita o valor do limite que considera necessário. O Conselho avalia novamente esse pedido e aprova ou não a solicitação. Essa análise visa evitar que o associado tenha gastos desnecessários com a conta corrente e os cheques, uma vez que para manter essa conta o correntista não tem custo algum, desde que não ultrapasse o limite previamente estipulado. Para compensação dos cheques emitidos em valor abaixo de R$ 30 o cooperado tem uma despesa de R$ 0,25 por folha.
Seguros
Desde 2000 o sistema Cre$ol tem à disposição de todos os associados o Seguro de Vida. Algumas cooperativas, no entanto, oferecem o serviço há mais tempo. Os prêmios variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil. A partir do primeiro empréstimo o cooperado pode contratar o seguro. A taxa de anuidade gira em torno de R$ 18 para cada R$ 5 mil. A finalidade deste produto é proporcionar maior segurança e tranquilidade ao associado para que ele e a família possam honrar suas dívidas diante de uma situação inesperada, como acidente ou morte.
O sistema mantém um convênio com o Banco do Brasil (BB), chamado Convênio de Compensação, por meio do qual a cooperativa retém o dinheiro e faz a compensação de cheques e de outros papéis. Os recursos do Pronaf Custeio também são repassados via BB.
Outros convênios importantes para repasse de recursos do Pronaf ocorrem com o Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nesses casos para repasses de recursos para investimento.
Essas instituições são responsáveis pelo repasse de recursos que se destinam ao financiamento agrícola, assistência técnica, formação e capacitação dos agricultores, entre outros projetos. O sistema também tem como parceiros o Rabobak, da Holanda, a Misereor, da Alemanha e a ACT/Trias, da Bélgica, entidades que contribuem com o desenvolvimento e execução de projetos também na área técnica, com a finalidade de otimizar a aplicação dos recursos na agricultura familiar, melhorando a produção e agregação de valor aos produtos agrícolas.