Dirceu reclama de repercussão de declarações sobre juros e nega divergência com Palocci

20/09/2004 - 16h49

Brasília, 20/9/2004 (Agência Brasil - ABr) - O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, reclamou hoje da repercussão do seu discurso na Fundação Getúlio Vargas, na última segunda-feira, quando disse que "meio ponto a mais ou a menos" na taxa básica de juros não faria diferença no crescimento econômico do país. Durante discurso no seminário "Desafios do Crescimento", em São Paulo, o ministro disse que faria um discurso "bem comportado" para evitar novas críticas às suas palavras.

Segundo Dirceu, toda a sociedade pode discutir a redução da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), menos o ministro-chefe da Casa Civil. "Eu não posso discuti-la. Se eu discuto, eu estou disputando poder, estou contra a política econômica. Eu vou me ater hoje aqui a responder as perguntas que foram feitas pelo seminário", disse.

Dirceu negou que o seu pronunciamento na semana passada tenha sido uma forma de mostrar posição contrária à atual política econômica do governo. "Eu vou remeter esse pronunciamento aos diretores do Banco Central, o ministro Palocci (da Fazenda) já leu, e o pronunciamento se transformou numa contestação da política econômica, da equipe econômica, e uma disputa entre eu e o ministro Palocci. É difícil falar sobre política econômica em um país quando nós tivermos esse tratamento", afirmou.

O ministro José Dirceu ressaltou que o Banco Central é autônomo, e elogiou a postura do banco ao decidir aumentar de 16% para 16,25% a taxa básica de juros da economia (Selic) antes das eleições municipais de outubro. "Poucos governos na América Latina tomam a decisão que o Banco Central tomou em véspera de eleição. Nas circunstâncias que nós estamos vivendo, demonstra como essa decisão pode ser discutida democraticamente pela sociedade", afirmou.

Mesmo adotando um tom mais contido, Dirceu defendeu a redução da taxa de juros real da economia. Na avaliação do ministro, o atual índice de 10,5% ainda é muito alto para o Brasil. "O país tem que trabalhar nos próximos anos para ter taxa real, que já é alta, de 6%. São R$ 60 bilhões a menos, grosso modo, da dívida líquida", disse.