Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Dentro de três dias, líderes de mais de 50 países estarão reunidos em Nova Iorque para o encontro em que o grupo de trabalho composto por Brasil, Espanha, Chile e França apresentarà sua proposta de Ação Mundial Contra a Fome e a Pobreza. A idéia é dar novo impulso aos esforços internacionais pelo cumprimento da meta de reduzir em 50% a pobreza no mundo até 2015. Esse objetivo está expresso nas chamadas Metas do Milênio, estabelecidas em encontro que reuniu 191 chefes de Estado em 2000, na chamada Conferência do Milênio.
De Brasília, o representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (ONU-FAO) no Brasil, José Tubino, 56 anos, espera um "comprometimento real" das nações no combate à fome e à pobreza no mundo. "É preciso acelerar os compromissos para atingir a estabilidade social, a paz e a sustentabilidade do planeta", alerta Tubino. "Espero que o encontro em Nova Iorque não tenha muita presença e pouco compromisso. Algumas ações são totalmente viáveis. Taxar em 0,01% as transações financeiras vai exigir mudanças no marco legal, mas trará uma contribuição enorme para reduzir a fome no planeta", disse ele, em referência a uma das propostas que será apresentada pelo grupo de trabalho.
Há quatro anos no país, Tubino desenvolve projetos com vários ministérios. Do Desenvolvimento Social ao Meio Ambiente, passando pelo Desenvolvimento Agrário e Integração Nacional. O Fome Zero merece atenção especial, com um investimento de US$ 1 milhão por ano.
A articulação não é resultado de uma proximidade física, mas de esforço e sintonia entre técnicos trazidos de várias partes do mundo para trocar conhecimento com os brasileiros. A FAO tem sede no setor Sudoeste, bairro brasiliense afastado da Esplanada dos Ministérios. A área, tranqüila e arborizada, tem poucos prédios ao redor.
Para manter o clima, há quatro meses, o agrônomo peruano, criado no Canadá, pediu que fosse construída uma espécie de choupana na parte externa do prédio. No teto, palha de coqueiro macaúba. Ao centro, uma mesa para reuniões de trabalho.
Em entrevista exclusiva para a Agência Brasil, José Tubino falou sobre o programa Fome Zero e o empenho do Brasil na luta contra a pobreza. Tubino também comenta a regulamentação dos transgênicos, a importância da merenda escolar e o perigo da alimentação hipercalórica. Confira:
Agência Brasil – Como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (ONU-FAO) tem atuado no Brasil?
José Tubino – Temos apoiado o governo em diversas ações. Apoiado não só com recursos financeiros, mas com recursos humanos. Consideramos o Fome Zero um programa prioritário por ser coerente com as metas da Cúpula Mundial de Alimentação. Por isso, investimos nele cerca de US$ 1 milhão por ano. São recursos próprios da FAO.
Agência Brasil – Além do Fome Zero, quais são os outros projetos apoiados pela FAO?
José Tubino - Também temos apoiado projetos de fortalecimento da agricultura familiar e a reforma agrária. Pensamos em estabelecer os beneficiários da reforma agrária na terra com projetos de desenvolvimento territorial. Com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estudamos uma política de abastecimento que aprimore a distribuição dos alimentos.
Agência Brasil – Como a FAO tem acompanhado o Fome Zero?
José Tubino – Este ano, ajudamos o governo na organização da nova estrutura. Estamos iniciando um novo projeto para acelerar as ações e implementar as recomendações da Conferência de Segurança Alimentar realizada este ano, em Olinda.
Agência Brasil – E qual é a recomendação principal?
José Tubino - A recomendação principal é apoiar a formulação da Política Nacional de Segurança Alimentar. Também trabalhamos o tema avaliação. Já existe no Ministério do Desenvolvimento Social uma Secretaria de Monitoramento e Avaliação. Atuamos em parceria.
Agência Brasil – Como a FAO avalia o Fome Zero?
José Tubino – Consideramos que é preciso acelerar. Estamos em uma fase de retomada do Fome Zero. O programa ainda precisa se consolidar. Na verdade, ele está em andamento há um ano meio. É preciso aumentar a vinculação de ações estruturantes, como geração de emprega, renda e capacitação em áreas rurais. O programa enfrentou vários desafios. Entre eles, o de aproveitar programas anteriores. Agora, é preciso aproveitar o tempo da melhor maneira possível. Senão, o tempo fica curto.
Leia também os demais trechos da entrevista.