Para argentinos, guerra fiscal impede liberação para automóveis do Brasil

09/09/2004 - 11h13

Marcio Resende
Especial para a Agência Brasil

Buenos Aires – Durante as reuniões que mantém nesta quinta-feira com autoridades brasileiras, em Brasília, o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, também deve avisar aos seus colegas brasileiros que seu país não permitirá a liberação do comércio automotivo, prevista para janeiro de 2006. O argumento é o da assimetria comercial.

Segundo um relatório do Centro de Estudos Bonaerense (CEB), os automóveis brasileiros respondem por 59% do mercado argentino, enquanto os veículos argentinos ocupam apenas 2,5% do mercado brasileiro. " Nos primeiros seis meses de 2004, só foram vendidos aos Brasil 18.682 carros argentinos (7,9% menos que em 2003 e 83,6% menos que em 1998)", aponta o estudo.

"Não estamos para observar o aprofundamento de assimetrias comerciais. Tomamos a decisão concreta de que não vamos liberar em 2006 o mercado automotivo com o Brasil. Essa decisão será totalmente compreendida pelo presidente Lula", anunciou o presidente Néstor Kirchner, ontem. Lavagna negou que a decisão afete a relação entre os dois países.

Pelo acordo, renovado em 2002, o Brasil se especializaria em veículos de pequeno porte, os chamados populares, enquanto a Argentina ficaria com os de médio e grande porte. Mas, com a recuperação econômica argentina, a preferencia do consumidor foi pelos carros de pequeno porte. O governo argentino quer agora incentivar a produção de carros pequenos e econômicos.

O estudo do CEB ilustra que, desde 1998, instalaram-se 10 fábricas de veículos no Brasil e nenhuma na Argentina. A quantidade de modelos argentinos comercialmente ativos no Brasil caiu de 25 para 11. A quantidade de modelos argentinos que superam as 10 mil unidades passou de 10 em 1998 a apenas 1 em 2004. Os argentinos competiam em 98 com 22 modelos de carros brasileiros; hoje com 44.

Incentivos fiscais

Por tudo isso, o governo argentino também tem interesse em que se discipline a guerra de incentivos fiscais entre os estados brasileiros. Para o ministro Lavagna, esses incentivos são decisivos na hora de uma empresa estrangeira decidir em qual país da região vai investir. A proposta argentina surge no "Protocolo de Boas Práticas de Empresas Multinacionais", um conjunto de medidas que visam equilibrar o poder de sedução por novas fábricas.

As críticas argentinas aos incentivos fiscais no Brasil não é nova. Ganhou força no final dos anos 90, quando as montadoras passaram a escolher o Brasil para centralizar as suas linhas de produção de automóveis. Junto com as montadoras, empresas de autopeças preferiam fechar as suas filiais argentinas, devido ao elevado custo de produzir com a paridade entre o peso argentino e o dólar. O mesmo ocorreu com duas grandes fábricas de eletrodomésticos.
Segundo o governo argentino, no total, as montadoras instalaram 21 fábricas no Brasil, de onde exportam à Argentina, onde somente duas montadoras optaram por se estabelecer.