Catadores de materiais recicláveis terão indústria de processamento de plástico

30/08/2004 - 18h49

Lívia Veiga
Repórter da NBR

Belo Horizonte - Catadores de materiais recicláveis, de Minas Gerais, vão administrar uma indústria de processamento de plástico em Belo Horizonte. O material coletado por eles será beneficiado e revendido para fábricas processadoras de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Como os próprios catadores vão vender diretamente o produto, terão lucros maiores.

A partir de amanhã (31), até o próximo domingo (5), catadores de materiais recicláveis de vários estados e de outros países vão se reunir em Belo Horizonte, na 3ª Edição do Festival Lixo e Cidadania. Eles vão discutir, neste ano, as alternativas tecnológicas para tratamento dos resíduos sólidos e do licenciamento ambiental. A abertura do encontro terá a participação do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias.

A indústria, que vai custar R$ 1,93 milhão, é uma parceria da Fundação Banco do Brasil, BrasilPrev, Ministério do Trabalho e Emprego e nove associações de catadores. A primeira fase da unidade industrial ficará pronta em novembro e entrará em operação já com capacidade para reciclar 200 toneladas por mês. Em três anos, a fábrica será ampliada, aumentando o volume de material reciclado. O plástico processado será transformado em grânulos usados como insumo em outras cadeias produtivas.

Durante o lançamento da pedra fundamental da unidade industrial, em um terreno cedido pela prefeitura de Belo Horizonte, no Bairro Juliana, o diretor-executivo da Fundação Banco do Brasil, Jandir Feitosa, destacou que o retorno esperado deste investimento é a inclusão social, "Nós estamos investindo num projeto que não só tem caráter social, mas também econômico. É um projeto em que foi feita muita conta, cálculo de viabilidade econômica, para que dê certo e todo trabalho de reciclagem seja olhado como um negócio, não como um trabalho filantrópico. Ele tem sentido econômico e, ao mesmo tempo, de promover a inclusão social", afirmou Feitosa.

O projeto é inédito no país. Para José Aparecido Gonçalves, coordenador da Asmare, uma associação de catadores de papel, papelão e materiais recicláveis, o dia de hoje foi um marco na vida dessas pessoas. "Hoje, nós estamos apontando para a possibilidade real dos catadores deixarem de ser mão-de-obra explorada. O que estamos lançando é resultado de uma história de luta e organização", disse Gonçalves. O catador Luiz Henrique da Silva concorda. "Vai agregar muito valor aos produtos, mas é importante também pela auto-confiança. Nós tínhamos aquela questão de estar sempre sendo menosprezados pelas empresas que compram material. Agora não. Agora vamos estar de igual para igual no mercado, ocupando uma boa fatia dele, se Deus quiser", disse Luiz Henrique.

O Brasil produz 140 mil toneladas de lixo por dia e cerca de 500 mil pessoas vivem da coleta de materiais que podem ser reaproveitados. O plástico é um dos produtos que mais demora para se decompor, em torno de 500 anos.