Ongs fazem ato público em SP por melhorias no atendimento a portadores do HIV

26/08/2004 - 18h08

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Cerca de 100 pessoas, a maioria representantes de organizações não-governamentais (ongs), ocuparam hoje as escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, no centro da cidade, em sinal de protesto contra a falta de eficácia do atendimento público ao tratamento de doentes com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). De acordo com os líderes do movimento, o ato ocorreu, simultaneamente, em 15 cidades, incluindo o interior paulista e 13 capitais do país.

Com uma enorme faixa preta, com o slogan Luto pela Saúde, os manifestantes procuraram chamar a atenção para outros problemas que afetam vítimas da aids e que transcendem o fornecimento do coquetel de remédios, como os medicamentos para doenças oportunistas, entre elas a pneumonia e a tuberculose.

Mais suscetíveis a contrair outras enfermidades, os portadores do vírus HIV nem sempre conseguem ter acesso a medicamentos para essas "doenças oportunistas", disse um dos organizadores da concentração, Mário Scheffel, diretor do fórum paulista ONGs-Aids. Ele observou que, no estado de São Paulo, há cerca de 70 mil portadores do HIV em tratamento, o equivalente à metade do total de pacientes no país, e mais de 20% vivem na capital. O número de infectados, com ou sem sinais da doença, é calculado em 600 mil.

Embora reconhecendo que o Ministério da Saúde tem feito a sua parte, com a distribuição do medicamento para controle da aids, o ONGs-Aids aponta falhas na assistência médica, tanto por parte de municípios quanto de estados. "Nos serviços de saúde são muitos os problemas enfrentados e essa história de que temos o melhor programa de aids do mundo não é bem verdade quando olhamos para a ponta, onde os pacientes são atendidos", declarou. Scheffel também citou a demora na realização de exames, de diagnósticos para acompanhar a evolução da infecção e a falta de leitos. "Tudo isso pode, sim, prejudicar a qualidade de vida das pessoas".

Em um panfleto distribuído à população, os manifestantes argumentaram que os estados e municípios não fazem a sua parte no atendimento. No mesmo comunicado, comentaram a realização de uma pesquisa pelo Fórum de ONGs-Aids de São Paulo, que reúne cerca de 180 entidades, em 30 cidades. Entre as constatações, citaram a falta de medicamentos básicos para tratar as doenças oportunistas e para combater os efeitos colaterais do coquetel; fracionamento dos anti-retrovirais (remédios do coquetel) com entrega de quantidade para menos de um mês de tratamento; demora na realização de exames de CD4 e carga viral (considerados indispensáveis para acompanhar a evolução da infecção pelo HIV) e ainda uma carência de mais de 100 leitos. Também salientaram a falta de campanhas de prevenção, como ações dirigidas aos usuários de drogas, em Ribeirão Preto, e outras voltadas para homossexuais masculinos, em São Paulo.