Livro incentiva debate sobre desenvolvimento da atividade de pequeno empreendedor

25/08/2004 - 15h03

Brasília, 25/8/2004 (Agência Brasil - ABr) - A falta de acesso regular ao crédito e o alto custo do dinheiro continuam sendo um dos entraves ao desenvolvimento dos negócios para pequenos e micro empreendedores, apesar dos esforços do governo. A constatação é de estudo do realizado em conjunto por 40 instituições públicas e privadas, que resultou no livro "Sistema Financeiro e as Micro e Pequenas Empresas", lançado hoje pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Segundo Paulo Okamotto, diretor de Administração e Finanças do Sebrae, o objetivo do livro é levantar o debate, inclusive no meio acadêmico, nas cooperativas de crédito e entre as instituições financeiras, e possibilitar o surgimento de novos produtos para atender às necessidades de micro e pequenos empreendedores. Ele defendeu a criação de um sistema público que facilite o crédito para o setor, que não dispõe de patrimônio ou de riquezas para dar como garantia às operações.

Para ele, as informações sobre os negócios também precisam ser aperfeiçoadas. "Queremos que, no Brasil, os pequenos negócios consigam gerar informações que o sistema financeiro reconheça como válidas e, com isso, aumente a oferta de crédito ao setor", revelou. O estudo que deu origem ao livro foi organizado pelo economista Carlos Alberto dos Santos, que criou um grupo de trabalho com reuniões quinzenais durante um semestre para diagnosticar os problemas relatados no trabalho.

Participaram da elaboração da obra 15 representantes do Banco Central, Sebrae, Fundação Getúlio Vargas, Universidade de São Paulo, PUC-SP, Unibanco, Banco do Brasil, Sistema Cooperativo (Sicob) e Associação de Bancos de Desenvolvimento. A cada encontro do grupo, representantes do sistema financeiro, do governo, de instituição de pesquisas etc. eram convidados para participar dos debates, somando 98 pessoas ao todo.

"O diagnóstico é bastante crítico porque a situação é bastante crítica", disse Santos. Ele lembrou que, com o fim da inflação alta, que permitia aos bancos lucros com o "imposto inflacionário", as instituições financeiras passaram a aumentar os ganhos com o alto endividamento do Estado. Por outro lado, as operações para os pequenos passaram a ser restritivas.

O economista defendeu como um das soluções o "cadastro positivo", que está sendo implantado pelo Banco Central. O Serviço de Informações Cadastrais (SIC) irá permitir a consulta on-line de dados sobre os bons clientes, o que em tese irá permitir a redução do spread bancário (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa que é cobrada pelo empréstimo). Por enquanto, esse cadastro limita as operações em R$ 5 mil, valor alto para pequenos e micro empresários. "Vamos atuar junto ao Banco Central no sentido de baixar isso", informou Santos.

O cooperativismo geral e de crédito é outra solução apontada pelo Sebrae. "A pequena empresa não pode ficar sozinha e isolada. Temos nos esforçado para soluções coletivas", argumentou Santos. Já Okamotto enfatiza que só pelo fato de uma assembléia estar discutindo a criação de uma cooperativa já cria tamanha pressão na praça bancária, que induz a queda de tarifas e juros, porque os gerentes dos bancos não querem perder os clientes.