Grupo de teatro representa coletivo cultural do MST

25/08/2004 - 3h27

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A mostra "História e Cultura MST", que acontece no térreo do Ministério da Cultura, em Brasília, revela o trabalho dos artistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Entre eles, está o grupo de teatro "Utopia", formado por camponeses do acampamento "17 de Abril", no município de Nova Andradina (MS). O grupo foi fundado em 1999, pelos sem-terra Jusceli dos Santos e Valdemir de Oliveira. "As pessoas nos dizem, ao final do espetáculo, que não sabiam que o movimento poderia trabalhar esse outro lado, de democratizar a cultura fazendo cultura", conta o ator e músico Valdemir.

Durante a mostra, o grupo apresentou o espetáculo "Alcapeta", uma crítica à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). "É um projeto que vai beneficiar as multinacionais e não os povos latino-americanos. Vai recolonizar o Brasil. Junto a esse projeto vêm as privatizações e o monopólio das sementes que são patrimônio da humanidade", diz Jusceli.

O grupo "Utopia" é um dos vários trabalhos culturais realizados pelo Movimento em 16 Centros de Formação Cultural. Neles, funcionam as frentes de teatro, música, artesanato, artes plásticas, literatura e poesia. No princípio, eram apenas uma das atividades nos Centros de Educação. Em 2001, alcançou a independência. "Na medida em que as experiências foram se avolumando e ganhando uma freqüência maior, se criou o coletivo de cultura", conta um dos responsáveis pela mostra, o militante Rafael Villas Bôas.

Com o sucesso das peças teatrais, que já somam 54 só no Mato Grosso do Sul, vieram os convênios e as parcerias com o governo local. A prefeitura disponibilizou materiais e professores da rede municipal para realizar oficinas de teatro, violão e pintura em tecido. "Já apresentamos a peça "Alcapeta" para mais de 15 mil alunos e eles conseguiram entender a mensagem de forma muito mais fácil que num debate ou palestra", se alegra Jusceli, que é chamado de Garganta pelos amigos pela força da voz que dá vida aos versos de rodeio.

Para ele, o mais importante é "mostrar que é o movimento não é aquilo que a mídia coloca na televisão". O grupo se apresenta todos os meses no estado. "Na cidade de Dourados, 32 escolas pediram o retorno da peça", se orgulha Garganta. Universidades, câmaras municipais e igrejas também são usadas como palco.