Rio, 24/8/2004 (Agência Brasil - ABr) - O estabelecimento de novos modelos de gestão e a profissionalização da pesca são condições para reverter a atual situação do setor no Brasil, onde o consumo de pescado é de apenas seis quilos per capita ao ano, contra média mundial de 14 quilos. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Análise da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) mostra que o fato de a pesca no Brasil ser artesanal e de baixa produtividade decorre de razões históricas e não da natureza ou de seus ecossistemas.
Para o pesquisador da Coppe/UFRJ, Antonio Marcos Carneiro, a atividade não teve reconhecimento mais estratégico nas políticas públicas do país. O Brasil tem 10% da água doce do planeta, é um país costeiro exuberante e, no entanto, a produção de pesca de água marinha e de bacias hidrográficas interiores está muito abaixo do ranking mundial, afirmou Carneiro.
Segundo o especialista, outros pontos negativos são a falta de investimentos tecnológicos e a ausência de ensino técnico-profissionalizante. "A gente não valoriza muito, historicamente, o uso da água, tendo prevalecido nas últimas décadas como política estratégica de desenvolvimento a utilização da água como recurso hídrico para geração de energia e não como recurso de biomassa ou como fonte de alimento".
Os desafios do setor serão apresentados no seminário "Gestão Sócio-Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável da Aqüicultura e da Pesca no Brasil", que a Coppe/UFRJ realiza a partir de amanhã (25), na Ilha do Fundão, nesta capital. O representante da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca no Rio de Janeiro, Jayme Tavares, e o consultor de Pesca para a América Latina e Caribe da FAO, Miguel Petrere Jr., participam dos debates.
Carneiro informou que o Brasil perde divisas na produção de pescado, que tem um potencial mercado internacional. O país também não dispõe de frota adequada para a pesca oceânica, já que as embarcações não vão além das 12 milhas. "Os outros países vêm pescar aqui e nós não conseguimos pescar sequer em nosso próprio mar", disse. Para Carneiro, o fato de o pescador não estar regularizado profissionalmente significa que ele está perdendo até seus direitos trabalhistas.
O objetivo do seminário é transformar o patrimônio ambiental em desenvolvimento econômico. Nesse sentido, o aproveitamento das áreas no entorno das usinas hidrelétricas para criação e desova de peixes, como já é feito na Noruega e no Canadá, pode ser uma das soluções para a atividade pesqueira, apontou.