Ipea projeta crescimento do PIB maior que 3,5%

19/08/2004 - 20h40

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta para esse ano crescimento econômico superior aos 3,5% previstos anteriormente. Os dados sairão na edição de setembro do Boletim de Conjuntura. O presidente do Ipea, Glauco Arbix, informou que "todos os dados preliminares indicam um desempenho intenso de diversos setores, sugerindo que a economia deve crescer acima do previsto".

Arbix não arriscou um percentual exato, "porque as informações ainda estão sendo cruzadas", mas garantiu que não há como o crescimento não ser superior aos 3,5%. "Estamos hoje observando o movimento da economia brasileira que nos deixa bastante otimista. Não vejo no horizonte próximo nenhum dado mais poderoso que nos levaria a abrir mão de uma projeção maior do PIB brasileiro".

O presidente do Ipea citou fatores externos como o fato de o aumento dos juros americanos, hoje em 1,5% ao ano, se dar de maneira gradual, o que possibilita ao Brasil se prevenir quanto a possíveis fugas de investidores para os Estados Unidos. Falou também da retomada da economia da Europa e no Japão. No caso das recentes altas do petróleo, ele comentou que a economia só será abalada se houver uma "hipercrise" no setor.

Internamente, Arbix disse que há um clima otimista tanto da parte do governo quanto da parte empresarial que aponta para um indicador de crescimento. A Confederação Nacional da Indústria já anunciou a projeção de 6% de crescimento, lembrou. "Há hoje uma conjunção de elementos extremamente otimista e que nós vamos aproveitar".

Sinais de crescimento também podem ser vistos nos dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho. Em julho houve 202 mil contratações com carteira assinda, elevando para 5,3% o crescimento do número de contratações em comparação com o mesmo período do ano passado.

Arbix chama a atenção que o país tem conseguido esse crescimento apesar de manter a segunda maior taxa de juros do mundo. "Muitos analistas escreveram que o país jamais conseguiria crescer com juros nominais a 16% ao ano. A realidade está desmentindo esses prognósticos. Estamos conseguindo crescer". Ele atribui esse fenômeno ao fato de muitos setores da economia não utilizarem a Selic nas suas captações. "É o caso da agricultura, que utiliza taxas mais baixas. Outros grupos, compostos por grandes empresas fazem a sua captação fora do país, a juros baixos e outros, são financiados pelo BNDES, que também trabalha com condições melhores que a Selic. Fazendo um cálculo grosseiro, podemos dizer que temos entre 40% e 50% da economia que trabalham com juros que não são da taxa Selic".

Arbix alertou no entanto que para sustentar o crescimento, a taxa de juros terá que ser reduzida, o que, segundo ele, não é uma questão de vontade, mas de condições. "Momentaneamente os
juros estão sendo estabilizados pelo BC, mas tenho certeza que a gente vai diminuir os juros. Esse é o problema que o governo tenta resolver agora".

Arbix está otimista para 2005, tendo em vista que este ano o país viveu momento de recuperação, com as empresas voltando a utilizar a capacidade de produção, que estava ociosa. "A
tendência é que agora as empresas comecem a investir mais. Depois de recuperar a capacidade ociosa, num segundo momento, as contrações vão crescer mais ainda", apostou.

Ele afirmou que "em 2005 investimento será a questão chave" e será urgente que se resolvam questões ligadas à infra-estrutura como estradas, portos e energia. "Se não conseguirmos aumentar o investimento nessas áreas, quando formos começar a crescer, vamos morrer na praia", alertou. E lembra o episódio que ficou conhecido como "apagão", quando, em 2001, o país teve que frear o crescimento por falta de energia.

Embora acredite no crescimento independentemente das interferências políticas, Arbix ressalta a importância do projeto das Parcerias Público-Privadas para incrementar os investimentos nesses setores estratégicos. "As parcerias entre o setor público e o privado são necessárias porque dizem respeito a um mecanismo extremamente inteligente e muito bem montado de atrair um investimento privado para áreas nervosas, muito sensíveis da economia brasileira".